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Sex | 14.03.14

A condição maternal no local de trabalho

fcrocha

A propósito da celebração do Dia Internacional da Mulher, que aconteceu no passado dia 8, lembrei-me de um livro que que li há uns tempos: “Tempo de Mulheres”, de Janne Haaland Matlary, uma norueguesa, casada, mãe de quatro filhos, professora de Relações Internacionais na Universidade de Oslo e que já fez parte do Governo do seu país.

 

Nesse seu livro, a autora defende que as mulheres, na busca pela igualdade no trabalho, aceitaram uma organização desse mesmo trabalho que estava projectada para homens e que não levava em linha de conta as exigências da maternidade.

 

É certo que nos países ocidentais as mulheres conseguiram ter um nível de formação académica idêntica e até superior à dos homens. No entanto, a vida profissional ainda continua organizada como se as mulheres não fossem também mães. É verdade que há leis de maternidade para quando os filhos são pequenos, mas a vida profissional continua organizada como se as mulheres não fossem mães.

 

No livro, a autora defende que o “feminismo igualitário” tentou mostrar que as mulheres poderiam trabalhar em igualdade com os homens em todos os sectores profissionais, mas que isso está longe da igualdade. Por isso, entende que o principal objectivo é o de obter o reconhecimento das suas diferenças em relação aos homens e que devem ser reflectidas na organização da vida profissional. O “feminismo igualitário” faz de conta que a função de ser mãe não existe ou que é irrelevante, aceitando a imitação dos papéis masculinos na vida profissional e, consequentemente, limitando o seu papel de mãe na esfera privada.

 

Para Janne Haaland Matlary, para haver igualdade entre homens e mulheres, é necessário que se reconheça que as mães têm direito a condições diferentes na sua vida profissional relativamente aos homens. É preciso combinar estas duas facetas das mulheres: profissionais e mães. Se uma mulher não puder cumprir as suas condições decorrentes da sua condição de mãe, também não poderá ser uma boa profissional de longa duração.

 

Por tudo isto, a autora defende um feminismo novo, que reivindique igualdade entre homens e mulheres, sem esquecer as diferenças entre eles. E dá um exemplo: “A vida política está feita para caberem apenas homens. É impensável a uma mãe com filhos pequenos participar em reuniões até à meia-noite ou viajar constantemente. Por isso é que a maioria das mulheres que participam na política não tem filhos ou tem filhos já crescidos”.

 

A autora acredita que a igualdade entre homens e mulheres não se faz com incentivos económicos ou políticas de quotas para mulheres, mas apenas com o reconhecimento da condição maternal.

 

A propósito disto, partilho uma pequena história que me contou um amigo: um casal decidiu contar quantas vezes é que o filho mais pequeno chamava pelos pais. Ao final do dia, o rapazito tinha chamado oito vezes pela mãe e apenas uma vez pelo pai. E a vez que chamou pelo pai foi para perguntar onde estava a mãe.