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alinhamentos

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Ter | 27.11.18

Não podemos ficar a ver os comboios passar

fcrocha

Apresentada por Humberto Brito como uma ideia eleitoralista enquanto candidato à Câmara Municipal de Paços de Ferreira, a construção de uma nova linha ferroviária que servisse o Vale do Sousa ultrapassou o período eleitoral e, com o acordo dos presidentes das Câmaras de Valongo, Paredes, Lousada e Felgueiras, que apresentaram um estudo que atesta a necessidade e o cabimento da nova linha, transformou-se no que pode vir a ser uma reivindicação de toda a região.

Na semana passada, o documento foi notícia no jornal “Público” e logo surgiram reacções extremadas: de um lado, os que dão a construção da linha como certa, como se fosse acontecer dentro de dias; do outro lado, os pessimistas, para os quais a ideia é uma fantasia que jamais será possível alcançar. Importa, por isso, perceber um pouco melhor a proposta.

Primeira pergunta: faz sentido a construção?

Estes pouco mais de 35 quilómetros de linha serviriam uma região onde existem cerca de 30 mil empresas, com a população mais jovem do país e onde a taxa de natalidade ainda é superior à mortalidade. Mas, acima de tudo, é a região mais pobre de Portugal. Quanto ao investimento necessário, é aproximadamente o mesmo que a empresa Metro do Porto vai gastar para fazer uma linha de São Bento à Boavista (onde já existe uma outra). Portanto, talvez não seja esse o maior problema.

Segunda pergunta: é um projecto concretizável?

Partindo dos dados contidos no estudo preliminar, se o Vale do Sousa ficasse na Alemanha ou na Suíça, provavelmente já se estaria a discutir onde e quando começaria a construção, mas, infelizmente, o Vale do Sousa fica num país cuja ferrovia nacional é, provavelmente, o sector mais abandonado pelos sucessivos Governos há mais de 20 anos. Não podemos esquecer que estamos a falar da construção de uma nova linha no mesmo país onde, em 20 anos, o Alfa Pendular, na Linha do Norte, não conseguiu ainda efectuar uma única viagem à sua velocidade de ponta, porque a linha não permite; onde, na Linha da Beira Alta, o comboio é suprimido porque a automotora não tem gasóleo; onde, na Linha do Oeste, nem sempre o comboio sai porque às vezes não há comboios em número suficiente; onde, na Linha do Alentejo, não se sabe a que horas o comboio chega ou parte porque nem sempre há comboios a funcionar em número suficiente.

Esta é a realidade do país que não podemos ignorar quando falamos na construção de uma nova linha, mas isso não quer dizer que os autarcas da região tenham de desistir de um projecto importante para a região, que deve ser transformado em prioridade regional e numa reivindicação junto do Governo central. Para isso, parece-me que se devem envolver e comprometer todas as forças políticas, não só os partidos do poder. Deve haver um compromisso transversal a todos os políticos desta região.

Se esta discussão que agora começou fizer com que os Governos inscrevam no Orçamento do Estado uma verba realista para a modernização ferroviária nacional, já valeu a pena. Se daqui a dez ou 20 anos começarem a construir a linha, terá valido muito a pena esta luta que agora começou. Para isso é necessário que seja um assunto para se levar até ao fim. Demore o tempo que demorar.

Qua | 21.11.18

O vice-presidente do PSD de Paredes que quer expulsar os vereadores de militantes

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Quando o PSD de Paredes parecia ter batido no fundo, descobre-se que, afinal, havia um alçapão que conduzia a um nível inferior. Vem isto a propósito do último plenário de militantes daquele partido.

Na agenda dessa reunião não havia nenhum tema polémico e o plenário serviria para que um dirigente nacional explicasse a posição do partido sobre o Orçamento do Estado. Isto antes de Armando Costa, o vice-presidente da Comissão Política Concelhia (CPC), ter usado da palavra para uma distribuição generosa de acusações e ofensas.

O primeiro alvo foi a JSD, que, na sua opinião, “não serve para nada a não ser para arranjarem tachos”. Mais à frente, entre uma dúzia de vitupérios, sugeriu que os membros da anterior Comissão Política fossem expulsos de militantes. Instado por um elemento do plenário a confirmar se seria mesmo isso que queria dizer, reafirmou-o: pretendia a expulsão dos membros da anterior CPC.

Sendo Armando Costa conhecido pelo seu estilo truculento, já não se estranha o tipo de discurso. O que é de estranhar é que o actual presidente do PSD de Paredes não se tenha demarcado destas afirmações.

Primeiro, se tivermos em conta a actuação do actual presidente e do vice-presidente durante o período que antecedeu as eleições autárquicas, perceberemos que as afirmações são de uma injustiça tremenda; segundo – e mais grave ainda –, os vereadores do PSD na Câmara Municipal de Paredes eram os membros da anterior Comissão Política. Ora, afirmar que os membros da anterior CPC devem ser expulsos de militantes do PSD é dizer que eles não representam o partido, ou seja, é afirmar que três dos quatro vereadores da Câmara Municipal de Paredes eleitos pelo PSD não representam o partido.

Parece-me que, perante a gravidade das afirmações, só há dois desfechos possíveis: a actual Comissão Política assumir publicamente a confiança nos vereadores e mostrar que não se revê na intervenção do seu vice-presidente, ou os vereadores deixarem de representar o PSD e assumirem o mandato a título pessoal.

Nesta altura, o presidente da Câmara Municipal de Paredes, eleito pelo PS, deve estar a pedir a Deus que dê muita saúde à actual Comissão Política do PSD e os anime a manterem-se à frente dos destinos do partido até às próximas eleições autárquicas.

Ter | 06.11.18

Fogo de vista

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Por estes dias, o Governo anunciou a diminuição do valor das propinas para os estudantes das universidades públicas. Aparentemente, a medida pode até parecer socialmente benéfica, mas, na verdade, não passa de uma medida iníqua e com um resultado quase nulo para as famílias carenciadas.

Um estudante de uma universidade pública paga, em média, cerca de 88 euros por mês em propinas. A redução deste valor em alguns euros não é significativa para a globalidade dos estudantes, mas fará muita falta aos cofres das universidades públicas que passam por um grande aperto financeiro.

No entanto, ao reduzir este valor para todos os estudantes, independentemente da sua condição económica, o Governo está a beneficiar as famílias menos necessitadas.

Se o Governo entende que tem margem orçamental para baixar o valor das propinas, então deverá aplicar esse dinheiro de forma a socorrer os estudantes com maiores dificuldades económicas. Neste momento, as maiores necessidades são mais bolsas de estudo e mais residências universitárias com preços controlados pela universidade.

Hoje, um estudante que não tenha a felicidade de ficar colocado numa universidade perto de casa, paga mensalmente 88 euros de propinas e cinco vezes mais por um quarto para dormir e estudar. Creio que é urgente corrigir esta situação.

Sex | 02.11.18

Os receios de Camilo depois de morto

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Nós católicos celebramos neste 2 de novembro os Fiéis Defuntos, recordando todos aqueles que já deixaram este mundo. Por isso, partilho uma foto do cemitério da Ordem da Lapa, aquele que é o mais antigo da cidade e o mais romântico. A foto é do jazigo de Freitas Fortuna, um bem-sucedido homem de negócios da Rua das Flores. É aqui que está sepultado Camilo Castelo Branco, que era amigo da família. Embora tradicionalmente as senhoras ficassem nas gavetas de cima do jazigo, Camilo Castelo Branco é excepção, por vontade própria. Pois, como tinha fama de se envolver com algumas senhoras casadas, tinha receio que depois de morto os maridos urinassem na sua campa. Por isso, deixou escrito em testamento que era sua vontade ficar numa gaveta superior. E lá está, como podem ver na foto.  

 

Qui | 01.11.18

Um ano de política autárquica: os poderes

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Se há duas semanas fazíamos um breve balanço sobre as oposições, chegou a altura de passar os olhos por este primeiro ano de mandato dos executivos municipais da região.

 

Comecemos por Lousada. Este primeiro ano foi tranquilo no que respeita à governação. No entanto, parece-nos que Pedro Machado poderá ter chamado a si demasiados pelouros trabalhosos. Desse modo, ao não delegar alguns desses pelouros nos seus vereadores, reduz o seu tempo disponível para estar mais próximo da população. Isto deveria preocupar o PS de Lousada, pois a vitória pouco expressiva nas últimas eleições e o aparecimento de um adversário que é político de carreira poderão dificultar uma eventual reeleição.

 

Em Paços de Ferreira, depois da reeleição pelo resultado mais expressivo de toda a região, Humberto Brito tem tudo para passar um mandato tranquilo. No entanto, neste primeiro ano, o tarifário da água para o pequeno comércio – que permite que comerciantes que gastam água paguem menos do que os que não gastam água nenhuma – ganhou contornos mediáticos desnecessários. É de realçar, neste primeiro ano, a intenção de criar uma empresa municipal para a recolha do lixo, numa tentativa de resolver aquele que é, neste momento, o problema maior daquele concelho.

 

Por Paredes, é tudo novo: quer o presidente, quer o partido que governa. Neste primeiro ano, Alexandre Almeida parece ter gasto mais tempo na caça às bruxas e nos ajustes de contas com algumas pessoas ligadas ao anterior executivo do que propriamente a governar. A verdade é que, um ano depois, a única mudança sentida pela população foi o aumento do número de festas, que decorrem umas atrás de outras. Isto só não é mais grave para o PS porque, neste momento, não tem uma oposição forte. Embora o povo diga “quem muda, Deus ajuda”, os resultados deste primeiro ano de mandato deixaram muito a desejar, certamente fruto da inexperiência do novo executivo. Por isso, espera-se que o adágio popular se torne verdade daqui para a frente.

 

Em Penafiel, Antonino de Sousa passou este primeiro ano com o seu trabalho escondido por algumas nuvens. Uma delas foi o relatório da Direcção-Geral das Autarquias Locais (DGAL) que atirou o município de Penafiel para os piores lugares da região no que toca ao aumento da dívida e ao prazo médio de pagamento a fornecedores. É certo que estes resultados são fruto do não-cumprimento, por parte do Estado, do pagamento dos fundos comunitários, mas, mediaticamente, essa explicação parece não ter chegado à população. Se é verdade que tudo isto assombrou o início do mandato, também é verdade que este primeiro ano terminou com o anúncio da criação de captação de novas empresas para o concelho e a criação de cerca de mil novos postos de trabalho. É de realçar que, na região, foi o único município a prestar contas, de forma concreta, do primeiro ano de mandato.

 

Quanto a Valongo, depois de um primeiro mandato em que esteve refém de uma oposição em maioria e pouco colaborativa, o PS local conseguiu a maioria absoluta e José Manuel Ribeiro deixou de depender de reuniões de executivo semanais e condicionadas. De forma hábil, tratou de fazer no início do mandato todos os aumentos de preços de bens e serviços que havia para fazer – por exemplo, na água e na recolha do lixo –, provocando todo o ruído mediático daí resultante enquanto dispunha do chamado “estado de graça” e deixando para uma fase seguinte o anúncio das medidas que lhe são mais favoráveis. O certo é que, ao final de um ano, a estratégia funcionou: as várias medidas positivas que tem vindo a apresentar apagaram qualquer ruído que ainda existisse das reacções aos aumentos dos preços do início do mandato.