Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

alinhamentos

alinhamentos

Ter | 31.07.18

Boa intenção ferroviária em choque com falta de uma estratégia nacional

fcrocha

Esta semana, os presidentes socialistas das Câmaras de Lousada, Felgueiras, Paços de Ferreira, Paredes e Valongo entregaram um manifesto ao ministro do Planeamento e das Infra-Estruturas, pedindo a criação de uma linha de comboio, num total de 36 quilómetros de extensão, que ligue estes concelhos socialistas.

Embora a exigência tenha sido feita com pouca determinação, talvez por serem do mesmo partido do Governo, a intenção é nobre: permitiria facilitar o transporte de mercadorias, contribuiria para a mobilidade das pessoas numa região com défice de transportes públicos e seria um investimento muito mais acertado do que a construção de estradas, numa economia que diz que quer ser competitiva. Mas a ideia terá poucas possibilidades reais de ser posta em prática nos tempos mais próximos.

No que respeita à ferrovia, Portugal está atrasado em mais de 30 anos relativamente a Espanha. Por exemplo, em 20 anos de Alfa Pendular, ainda não houve um único dia em que ele circulasse à velocidade para que foi criado, porque a principal linha ferroviária do país está por renovar. Outro exemplo é o da electrificação do troço Caíde-Marco de Canaveses, na Linha do Douro, que deveria ter terminado há dois anos, mas que nem sequer começou. E há mais exemplos: a electrificação do troço Elvas-Caia, que deveria ter terminado em 2017 e não começou; a requalificação da Linha da Beira Alta, que está parada.

Para se ter uma ideia, nesta altura, segundo o plano apresentado pelo actual ministro, já deveria estar em curso a requalificação e construção de 1193 quilómetros de linhas férreas e ainda só foram intervencionados 79 quilómetros.

Se queremos ter um país competitivo, temos que centrar o investimento na ferrovia. Mas este investimento não pode ser feito com remendos, sem uma estratégia nacional. O investimento na ferrovia permitiria dar esperança ao interior do país. Num país que quer atrair turismo, não faz sentido que a viagem de comboio entre Braga e Faro demore hoje quase o mesmo que demorava há 50 anos.

Resumindo: a proposta destes autarcas é oportuna. No entanto, numa altura em que a política dos sucessivos governos tem sido a do desmantelamento do sector ferroviário nacional, é necessário que a determinação destes autarcas vá mais além do que uma simples carta de intenções.

Seg | 30.07.18

Gente que não cheira, nem fede

fcrocha

Olhamos para o que vai acontecendo à nossa volta, fazemos umas caretas de reprovação, murmuramos com os amigos, mas não fazemos nada. Fazer alguma coisa é criar problemas com alguém e nós não somos disso. Somos um país de gente morna: gente que não é quente, nem fria. Gente que não cheira, nem fede. Gente mais ao menos. Que falta nos faz gente decidida.

Sex | 27.07.18

A degradação da classe política

fcrocha

sem-rumo.jpg

Começa a ser normal que os políticos em funções sejam apanhados em situações eticamente reprováveis e, em alguns casos, susceptíveis de configurarem crime. São tantas as situações que começam a ser olhadas como “normais” pelo cidadão comum e, naturalmente, passam sem consequências para os visados.

 

A par disso, temos assistido a um aumento da agressividade verbal no discurso político, muitas vezes rasando a má-educação, usando palavras injuriosas ou denunciadoras da falta de civismo. Basta estar atento ao que dizem publicamente os políticos e facilmente se percebe uma agressividade que, em muitos casos, ultrapassa a disputa de opiniões para se transformar em insultos de carácter pessoal.

 

Confesso que às vezes interrogo-me sobre como é possível que alguns sujeitos ocupem cargos públicos.

 

Este tipo de comportamento, dilatado pelo ruído mediático, destrói a confiança das pessoas nos políticos, estimula o desinteresse cívico e degrada a qualidade da democracia.

 

Um país sem políticos honesto e polidos é um país à deriva.

Qua | 25.07.18

Jornalismo pelintra

fcrocha

Quando existe um país a arder e a precisar de ajuda, a única preocupação do jornalista é saber, de forma agressiva, quanto custa ajudar uma população que vive uma tragédia que já matou quase uma centena de pessoas. Que jornalismo pelintra!

Qua | 25.07.18

Sol a mais na moleirinha

fcrocha

Di4ECeeXoAAfOiE.jpg large.jpeg

Quando eu era pequenito, sempre que ia para a rua jogar à bola a minha mãe dizia permanentemente a mesma coisa: “Leva um chapéu que o sol faz mal”. Por isso, ainda hoje acredito que o sol na moleirinha faz mal a muita boa gente.

 

Vem isto a propósito do comentário patético do deputado Carlos Abreu Amorim feito, ontem, nas redes sociais e sobre o trágico fogo grego.

 

Parece-me grave que, perante uma calamidade que matou dezenas de pessoas, a única coisa que um deputado da nação tenha para dizer seja traçar um paralelismo entre os governos de esquerda dos dois países. O pobre deputado, em vez de se solidarizar com as vítimas da tragédia, optou por esta miserável tirada de populismo demagogo.

 

Longe vão os tempos em que para se ser deputado era necessário, entre outras coisas, ser-se inteligente.

 

Não deixa de ser irónico que Carlos Abreu Amorim se tenha queimado no fogo grego.

Ter | 24.07.18

Uma cultura feita do que sobra das escolhas

fcrocha

agenda_cultural.jpg

 

Há vários estudos que indicam que os portugueses consomem poucos produtos culturais. Por exemplo, em Portugal editam-se dezenas de milhares de livros por ano, tantos que equivaleria a dizer que cada português compra um livro por ano. No entanto, se retirarmos dessa contabilização os manuais escolares e os livros técnicos, chegamos à triste conclusão de que apenas 15 em cada 100 leram um livro no último ano. No caso do cinema, os números não são muito diferentes: apenas 29 em cada 100 portugueses foram ao cinema no último ano. Se falarmos em teatro, dança, visitas a museus e a monumentos, os números são desastrosos. Onde somos mesmo recordistas é a ver televisão e nas redes sociais. Aí, sim, batemos os restantes povos europeus.

É certo que as sucessivas crises económicas que têm afectado o nosso país não deixam muita margem financeira às famílias para gastos em produtos culturais. Mas as crises não podem servir de desculpa. Primeiro, porque os municípios desta região continuam a gastar rios de dinheiro em actividades de gosto duvidoso a que chamam “cultura”; segundo, porque numa região onde se investiu desalmadamente em educação faria todo o sentido investir em cultura. Na verdade, os indicadores culturais estão sempre ligados aos da educação. Por exemplo, os países com mais hábitos culturais são aqueles com os níveis de sucesso escolar mais altos. Diz um ditado popular: “De pequenino se torce o pepino”. Ora, investir em cultura nas idades escolares é criar hábitos culturais nos futuros adultos. É uma questão de educação.

Poder-se-á argumentar que nesta altura de dificuldades financeiras as câmaras municipais não têm dinheiro para investir em cultura. Olhando para os programas festivos nestes concelhos, dá para perceber que a falta de dinheiro parece não ser um problema. O que parece faltar mesmo é uma agenda cultural para a região gerida por uma entidade supramunicipal. Por exemplo, não se compreende que à mesma hora que acontece um concerto num concelho A, ali, a escassos cinco quilómetros, no concelho vizinho, esteja a ocorrer outra actividade cultural.

Elaborar uma agenda cultural partilhada e coordenada faria aumentar o número de eventos culturais na região e, ao mesmo tempo, permitiria que cada município fizesse muito mais, com o mesmo dinheiro.

Sex | 20.07.18

Penafiel: uma oportunidade e um problema

fcrocha

Oportunidade: Contagem decrescente para atrair investimento

Mais de 350 empresários de todo o mundo estão inscritos para participar no terceiro Encontro dos Investidores da Diáspora, que se vai realizar em Penafiel, de 12 a 14 de Dezembro deste ano. O encontro é promovido pelo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que, talvez por ser da região, quis mostrar as potencialidades do Tâmega e Sousa e participar no incentivo ao investimento. Parece-me que estes meses de antecedência poderiam ser aproveitados para os empresários locais começarem a preparar-se para as oportunidades de negócio que possam surgir em consequência daquela iniciativa, mas também para a concepção de material de divulgação e promoção de projectos de investimento, de modo a que estes possam ser conveniente e convincentemente apresentados. Tal como dizia um professor de uma cadeira de Economia que frequentei, “a sorte é a oportunidade que aparece a quem se preparou para ela”.

 

Problema: Mudanças na colocação dos professores das AEC

Também em Penafiel, mas já nos próximos meses, o início de ano lectivo pode vir a ser turbulento, atendendo a que, depois de mais de dez anos de gestão das actividades extracurriculares (AEC) nas escolas do concelho a cargo da Câmara Municipal, os professores dessas actividades foram recentemente informados de que aquela gestão passará a ser feita por cada um dos agrupamentos escolares.

Creio que fará mais sentido que as AEC sejam geridas pelos agrupamentos escolares do que pela Câmara Municipal, primeiro, porque os agrupamentos escolares têm um maior conhecimento das necessidades de cada uma das escolas e, segundo, como afirma o vereador da Educação, porque a Câmara Municipal não tem condições técnicas para assegurar esse tipo de gestão. No entanto, há um aspecto que parece não ter sido acautelado: a colocação dos professores. Era o Município que procedia à selecção e colocação dos professores das AEC, passando a caber essa responsabilidade aos próprios agrupamentos. Ora, teme-se que, com esta mudança, dezenas de professores – alguns a leccionar neste sistema há mais de dez anos –possam ver em risco o seu emprego.

Caso não haja garantias, a tempo, de que não será assim, poderemos ter um início de ano lectivo agitado no concelho de Penafiel.

Ter | 03.07.18

Falar e ser ouvido

fcrocha

falar-ouvido.jpeg

 

Às vezes, somos tentados a fazer comparações de estilo entre o actual Presidente da República e o anterior. Tratando-se de um cargo pessoal, influenciado pelas características pessoais de quem o exerce, traçar comparações pode ser um exercício falhado.

Assim, sendo Aníbal Cavaco Silva homem muito diferente de Marcelo Rebelo de Sousa, é natural que os dois desempenhem as funções de Presidente da República de modo bem diverso. Aníbal Cavaco Silva nasceu em Boliqueime, longe de Lisboa, numa família de origens modestas. Já Marcelo Rebelo de Sousa nasceu em Lisboa, filho de um médico que foi governador-geral de Moçambique e ministro de Marcelo Caetano, e de uma assistente social, estudou no Liceu Pedro Nunes, por onde passava a elite lisboeta. O primeiro estudou números, o segundo estudou leis. Por isso, fazer comparações entre duas pessoas com origens, formação e percursos de vida distintos pode ser uma falácia.

Cavaco Silva é um homem de aparência austera, de poucos sorrisos e muito formal. Estas características, associadas a um tempo de crise e intervenção internacional, fizeram dele, principalmente na parte final do seu mandato, uma figura impopular para muitos portugueses. Marcelo Rebelo de Sousa chega à Presidência da República como uma espécie de anti-Cavaco. Homem de sorriso fácil, afectuoso e muito popular. É esta popularidade que parece estar a transformar-se em populismo.

Em Portugal, parece não haver quem não tenha uma selfie com o Presidente da República. Além disso, o Presidente fala de tudo e está em tudo, comentando tanto a morte de um actor como um golo falhado no Mundial de Futebol. Este fim-de-semana subiu ao palco do Rock-in-Rio para cantar com os Xutos e Pontapés. Só que este populismo, aos poucos, condicionará a acção de um Presidente habituado a receber palmas e que, por isso, poderá vir a não se arriscar a fazer nada que faça quebrar esse populismo.

Esta semana, Helena Matos escrevia que “os outrora tão criticados espectáculos da política e a política-espectáculo deram lugar a algo completamente diferente e muito mais perigoso: o espectáculo enquanto forma de preencher o vazio da política”. Cavaco Silva era um chato, que teimava em falar ao país (como falava pouco, nós ouvíamos o que ele nos dizia) para nos explicar que o país caminhava para uma falência. Por exemplo, ontem, foram divulgados dados económicos que indicam que a dívida pública atingiu o seu máximo histórico, elevando Portugal para o quarto lugar dos países mais endividados do mundo. Certamente que se o Presidente fosse o chato e sisudo do Cavaco Silva, teria dito alguma coisa sobre isto ou pedido explicações a quem nos governa.

Já nas relações do Presidente da República com outros chefes de Estado, este populismo tem tornado certas situações um pouco ridículas. Exemplo disso foram os encontros com os Presidentes da Rússia e dos Estados Unidos da América. No Kremlim, Putin recebeu Marcelo Rebelo de Sousa com uma comitiva de luxo: o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia e o homem forte do petróleo russo, Sechin. Perante este elenco, Marcelo falou de… futebol. Constrangidos, os políticos russos limitaram-se a sorrir. Na Casa Branca, Marcelo Rebelo de Sousa teve posições que saíram do protocolo, tentou dar uma lição de história a Trump, sentado na cadeira, de perna cruzada, num estilo “à vontadinha”, enquanto tentava umas tiradas cómicas.

Depois do poder de dissolver a Assembleia da República, o maior poder do Presidente é a magistratura de influência. Mas, para ser exercida, é preciso que, quando o Presidente falar, as pessoas e as instituições o ouçam e o levem a sério.