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alinhamentos

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Qua | 31.08.16

Relevâncias

fcrocha

Terminou a 37.ª edição da Agrival, que, confirmando a quebra de recordes das edições anteriores, recebeu, em apenas dez dias, mais de 140 mil visitantes, afluência que a torna, provavelmente, na maior feira agrícola do Centro e do Norte do país. Os 25 mil metros quadrados de exposição disponíveis não foram suficientes para albergar todas as entidades que manifestaram interesse em participar, mas os que conseguiram lugar garantem que fizeram negócios num valor total superior a 10 milhões de euros. São números que não podem deixar de impressionar, tanto mais que se referem a pleno Agosto, com grande parte do país a passar férias nas praias, e a uma das regiões de Portugal que mais sentem a actual crise financeira.

 

Todos os anos, independentemente dos partidos que sustentam os Governos vigentes, tem havido ministros a inaugurar a feira e outros que, nos dias seguintes, têm por lá passado, mas este ano, à última hora, o Governo fez saber que não tinha, entre os seus membros, quem pudesse ir a Penafiel inaugurar a Agrival. Terá esta indisponibilidade tido alguma relação com o facto de, por um lado, o Governo ser socialista e sustentado pelo PCP e BE, e de, por outro, o executivo municipal ser liderado por uma coligação de direita?

 

O Leitor lembra-se de o Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, ter dito que as casas com maior exposição solar devem pagar mais IMI? Foi no início do mês, enquanto inaugurava mais uma edição da Capital do Móvel, uma feira que tem sofrido uma perda progressiva de visitantes e uma dificuldade cada vez maior em conseguir expositores. Coincidência, ou não, o executivo municipal de Paços de Ferreira é da mesma cor partidária do Governo.

 

Há poucas semanas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, e número dois do Governo, esteve em Paredes a inaugurar a sede de uma associação empresarial acabada de fundar que nada mais é do que uma sala alugada, com duas mesas e meia dúzia de cadeiras. Na mesma altura foram fundadas duas associações empresarias, uma que serve os interesses do PSD e outra os do PS. Esta que Augusto Santos Silva veio inaugurar é, ao que parece, afecta à facção socialista. Outra infeliz coincidência.

 

É certo que a Agrival se tornou suficientemente relevante para que o seu sucesso não dependa da presença de um qualquer governante. Mas não deixa de ser triste, e ao mesmo tempo preocupante, que o Governo pareça não reconhecer essa relevância, ao contrário do que, naturalmente, fazem os cidadãos que visitam o certame.

Sab | 20.08.16

O Governo ao serviço do partido

fcrocha

Há umas semanas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, número dois do Governo, veio a Paredes inaugurar – espante-se! – uma sala alugada com duas mesas e meia dúzia de cadeiras que será a sede de uma recém-criada associação empresarial que – diz-se – serve os interesses dos socialistas locais.

 

Ontem, não havia um único membro do Governo disponível para inaugurar a Agrival, aquela que é, provavelmente, a maior feira agrícola do norte do país. Tudo porque – consta-se – o executivo municipal de Penafiel é liderado por uma coligação de direita. Era isto.

Qua | 17.08.16

Perseverança e fé

fcrocha

Por estes dias tenho acompanhado os Jogos Olímpicos, como presumivelmente a maioria da população. É provavelmente o maior evento mundial em que podemos viver para além dos conflitos, diferenças nacionais, ideológicas e religiosas. Estão representados todos os países e nos deste ano até um grupo de refugiados dos que inundam a Europa. Os Jogos Olímpicos é um dos poucos espaços em que a humanidade se encontra consigo mesma.

 

Sempre que algum atleta se destaque de forma significativa dos restantes, tenho por hábito procurar saber mais sobre esse atleta. Foi o que fiz relativamente a três que têm tido prestações fenomenais: Usain Bolt, Michael Phelps e Simone Biles.

 

Quanto ao primeiro, descobri que o atleta jamaicano desafia as leis da física. Ora, os seus 1,95m de altura e os 95kg de peso, teoricamente, não lhe permitiriam estar numa fase final dos 100 metros. No entanto, o atleta não só chegou à fase final como ainda conseguiu o lugar mais alto do pódio por três vezes consecutivas. Já agora, se quiser saber como é correr à velocidade de Bolt, entre no seu carro, arranque e acelere até chegar aos 44km/h. É essa a velocidade de corrida de Usain Bolt.

 

Quanto aos outros dois, mais do que as qualidades físicas e o número de medalhas, têm em comum a fé.

 

Michael Phelps ganhou mais medalhas do que qualquer outro atleta na história dos Jogos Olímpicos. O que provavelmente não sabe é que há dois anos este atleta “bateu no fundo”. Entrou em depressão, consumiu drogas e álcool e quase cometeu o suicídio. Depois de um sucesso estrondoso nos Olímpicos de 2012, que o tornou adorado por vários, numa espécie de “deus Phelps”, o ser humano Phelps entrava numa espiral depressiva, e chegou mesmo a afirmar, na altura: “Eu não tinha auto-estima. Não via o meu próprio valor. Só pensava que o mundo ia ficar melhor sem mim. Achava que a melhor coisa que eu podia fazer era acabar com a minha vida“. Entretanto, foi internado para tratamento e um atleta amigo ofereceu-lhe um livro que falava sobre a vida e a fé. O certo é que Phelps mudou a sua vida e acabou por partilhar o livro com outros pacientes do centro de recuperação. Michael Phelps, que devido ao divórcio dos pais não tinha contacto com o pai desde os nove anos, aproximou-se do pai, pediu a namorada em casamento, que está marcado para depois do Jogos Olímpicos, e voltou a ser um atleta de excelência, acreditando que a recuperação e a valorização da família foram consequência da sua recém-descoberta da fé cristã.

 

Simone Biles é o novo fenómeno olímpico. No momento em que escrevo este texto, a ginasta americana já conseguiu quatro medalhas de ouro e uma de bronze. Tudo isto na sua primeira participação neste tipo de competição. A atleta americana apresenta um nível de excelência na ginástica artística equivalente a nada menos do que o de Michael Phelps na natação, ou de Usain Bolt no atletismo. Para se ter uma ideia, Simone ganhou todos os últimos quatro títulos norte-americanos e os últimos três mundiais. De 2013 até aos Jogos Olímpicos, atingiu o recorde de 14 medalhas no Campeonato Mundial, sendo dez de ouro. Desde Agosto de 2013 que não perde uma única competição.

 

Há uns dias, a revista americana “Us” pediu-lhe que esvaziasse o seu saco de ginástica, na esperança de encontrar alguma pista secreta para o seu sucesso, mas nada foi considerado extraordinário, à excepção, talvez, de um terço branco. Questionada sobre se era um amuleto, Simone Biles explicou: “O terço não é para rezar antes das competições, é para rezar no dia-a-dia”. E aproveitou ainda para dizer que vai regularmente à missa e que supera os seus medos com a fé.

Qui | 11.08.16

Confundir o essencial com o acessório

fcrocha

Ao aproximarmo-nos da época eleitoral, sentimos que muitas vezes a racionalidade dá lugar à demagogia. Parece ser isto o que está a acontecer no concelho de Valongo.

 

A mais recente polémica prende-se com um folheto que a Câmara Municipal enviou a toda a população no qual prestava contas sobre a actividade do ano anterior e que a oposição – leia-se PSD e CDU – diz faltar à verdade.

 

No tal folheto de prestação de contas é dito que a Câmara Municipal de Valongo paga aos seus fornecedores em seis dias, que baixou a dívida municipal em três milhões de euros, que executou 95 por cento do Orçamento, que a autonomia financeira do município subiu para mais de 70 por cento, etc. Nenhum destes dados é posto em causa, mas, ao que parece, o que indigna o PSD e a CDU é o facto de se dizer que a Câmara Municipal transferiu para as juntas de freguesia mais de um milhão de euros para estas fazerem, entre outras coisas, “varredura das ruas e passeios cinco vezes por semana”. E este “cinco vezes por semana” é que escandalizou a oposição.

 

Vamos por partes: existe um protocolo celebrado entre a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia que prevê que estas ficam responsáveis pela varredura das ruas e passeios das suas freguesias. No entanto, as ruas que são varridas cinco vezes por semana são apenas as centrais. O erro na comunicação da Câmara Municipal é dar a entender que esta periodicidade é de todas as ruas, quando, na verdade, é de apenas algumas.

 

No entanto, há pouco mais de um mês, o VERDADEIRO OLHAR publicou uma sondagem feita no concelho de Valongo. Um dos resultados desse estudo indica que o que mais preocupa a maioria dos valonguenses é a falta de limpeza nas ruas e passeios do concelho.

 

E é aqui que está o essencial: não é saber se o folheto diz que as ruas devem ser varridas cinco vezes por semana ou uma vez por mês, é que a maioria da população sente que elas não são varridas. Certamente que se as ruas fossem varridas, nem que fosse duas vezes por mês, este não seria a maior preocupação da população...

 

O essencial é saber por que é que a limpeza não é efectuada quando as Juntas de Freguesia recebem dinheiro para fazer esse serviço. Parece-me que a oposição deveria questionar o presidente da Câmara Municipal para saber se a delegação de competências que foi feita nessa área é benéfica ou não para os munícipes.

 

O assunto é sério, uma vez que preocupa a maioria da população. Por isso, não deveria ser sujeito à demagogia e ao populismo que procuram confundir o essencial com o acessório.

Sab | 06.08.16

Do falar ao fazer

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Esopo, um escritor da Grécia Antiga, terá escrito uma fábula que é mais ao menos assim: havia uma colónia de ratos que viviam com medo de um gato. Certa vez, resolveram fazer uma assembleia para encontrar uma forma de acabar com aquela ameaça. Fizeram imensos planos e abandonaram outros tantos até que um jovem e esperto rato se levantou e deu uma excelente ideia: a de pendurar uma sineta no pescoço do gato. Assim, sempre que o gato se aproximasse, eles ouviriam a sineta e poderiam fugir. Todos os ratos bateram palmas. Perecia que o problema estava resolvido. Às tantas, no meio de tanta alegria, um velho rato, que tinha estado num canto sempre calado, levantou-se e disse que o plano era muito inteligente e ousado e que, quando fosse posto em prática, resolveria, de facto, o problema da colónia de ratos. Só faltava saber uma coisa: quem iria pendurar a sineta no pescoço do gato?

 

Moral da história: falar é fácil, fazer é que é difícil.

 

Vem isto a propósito de mais uma feira Capital do Móvel, a 47.ª, que abre hoje ao público, mas o que se tem verificado em cada nova edição é que tanto os visitantes como os expositores têm comparecido em menor número do que na anterior. Longe vão os tempos em que o pavilhão não chegava para tanta procura e os empresários faziam grandes negócios. Hoje, a feira é realizada numa situação financeira sufocante por parte da entidade organizadora, a Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF), com uma direcção em gestão corrente por não haver pretendentes a tomar conta dos seus destinos.

 

O problema da indústria de mobiliário de Paços de Ferreira não é de agora, é um problema que se arrasta há mais de uma década. Mas agravou-se particularmente nos últimos três anos. É verdade que, enquanto estavam na oposição, os actuais membros do executivo municipal alertaram – e bem! – para o problema da indústria e da AEPF. No entanto, as ideias e promessas com que chegaram ao poder não têm tido, aparentemente, o resultado desejado.

 

A criação de uma nova marca, a Capital Europeia do Móvel, para além de ter tirado força à marca Capital do Móvel, parece ter vindo lançar confusão na estratégia de marketing e publicidade local: ao passo que a associação usa a marca Capital do Móvel, a Câmara Municipal usa a marca Capital Europeia do Móvel. Por outro lado, no local da realização da feira deveria estar a funcionar há quase três anos uma empresa vietnamita que, de acordo com anúncio feito pela mesma autarquia, nesta altura já teria investido mais de 200 milhões de euros, criado centenas de postos de trabalho e resolvido os problemas financeiros da AEPF.

 

Tal como na fábula de Esopo, nem sempre a concretização de boas ideias é tão simples como inicialmente se imaginava. Infelizmente.

Ter | 02.08.16

Educar ou asfaltar

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Há uns dias, li uma entrevista de Alceni Guerra, ex-Prefeito de Pato Branco, uma cidade brasileira no estado do Paraná com cerca de 70 mil habitantes. Quando foi eleito Prefeito (Presidente da Câmara) daquele município, em 1997, a estrutura educativa resumia-se a duas creches e duas salas de alfabetização para adultos. Em quatro anos, Alceni Guerra construiu 25 escolas, pôs a funcionar o ensino integral na rede pública da cidade, criou benefícios para mais de 10 mil alunos e ofereceu o ensino do Inglês aos maiores de seis anos. Quatro anos depois, perdeu as eleições.

Explicando as suas intenções na entrevista que eu li, Alceni Guerra diz que tentou transformar a cidade num pólo de conhecimento e que a educação poderia ser o elemento diferenciador para a população fugir da pobreza em que vivia. Mas o seu sucessor teve outra ideia: asfaltou mais de metade das ruas da cidade e, desse modo, conseguiu renovar o mandato.

A atitude do eleitorado de Pato Branco não é muito diferente da dos eleitores de Portugal. Pegando no exemplo do actual presidente da Câmara Municipal de Paredes, de quem se pode dizer sem favor que fez da educação a sua bandeira, sob a sua orientação construíram-se grandes centros escolares, com melhores condições do que algumas faculdades públicas, e o concelho tornou-se pioneiro no ensino obrigatório até ao 12.º ano de escolaridade e no combate ao abandono escolar. Mas foi por uma unha negra que não foi derrotado nas últimas eleições.

A verdade pode incomodar, mas é verdade: a educação, pelos vistos, não dá votos. Na hora de votar, as pessoas elegem outras prioridades, como, por exemplo, o asfalto que mandaram pôr à porta das suas casas.

Será possível mudar isto? Não sei. Mas parece que Celso Ferreira também não está muito preocupado com isso. Numa altura em que os mais críticos reclamam por causa dos buracos na estrada, o autarca optou novamente pela educação. A Câmara Municipal de Paredes está a oferecer o pagamento integral das propinas a todos os alunos do concelho que se queiram inscrever na licenciatura em Tecnologias da Madeira. O curso, uma parceira entre a Câmara Municipal, a Escola Superior de Tecnologia de Gestão de Felgueiras e o Instituto Politécnico do Porto, é leccionado em Paredes e Felgueiras e tem 100 por cento de empregabilidade.