Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

alinhamentos

alinhamentos

Sab | 30.01.16

Vencedores e vencidos

fcrocha

A resposta parece simples: ganhou Marcelo Rebelo de Sousa, porque será o próximo Presidente da Republica, e ganhou Vitorino Silva, porque conseguiu mais de 152 mil votos. Todos os outros perderam.

 

No entanto, uns perderam mais do que outros. O maior de todos os derrotados foi Edgar Silva, o candidato do PCP e de “Os Verdes”. O comunista conseguiu menos de metade dos votos que o seu partido teve nas últimas legislativas. Não fossem os votos dos poucos conselhos tipicamente comunistas e Edgar Silva teria ficado bem atrás do “Tino de Rans”. Uma curiosidade: é a primeira vez que o Secretário-Geral dos comunistas assume publicamente uma derrota. Nunca tal tinha acontecido desde que há eleições livres. Certamente, esta pesada derrota terá como consequência a mudança de papel do PCP na coligação de esquerda que sustenta o Governo.

 

A segunda maior derrotada foi Maria de Belém. Tinha como objectivo ter mais votos do que Sampaio da Nóvoa e provocar uma segunda volta eleitoral. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. Ficou-se por uns humilhantes 4,24 por cento dos votos.

 

Outro dos derrotados foi Sampaio da Nóvoa. É certo que foi o segundo mais votado, mas não impediu a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta e teve menos de metade dos votos do seu principal adversário.

 

Associado a estas duas candidaturas há um terceiro perdedor: o Partido Socialista. Importa recordar que António Costa classificou estas eleições como as primárias deste Governo e apelou ao voto nos candidatos Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém. A soma dos votos nestes dois candidatos somam 1,26 milhões, qualquer coisa como menos meio milhão do que o PS obteve nas últimas legislativas.

 

Outra das derrotadas é Marisa Matias: embora tenha festejado efusivamente o facto de ter conseguido um honroso terceiro lugar, na prática conseguiu a mesma votação que o BE teve nas últimas eleições. Comparando com os restantes candidatos da esquerda foi a que conseguiu fidelizar mais votos do partido que a apoiou, mas não conseguiu fazer crescer a base eleitoral do Bloco de Esquerda.

 

Entre os mais pesadamente derrotados estamos todos nós e a democracia. Foi a eleição com o maior número de candidatos, mas a que contou com menos portugueses a votar: mais de metades dos recenseados não exerceram o seu direito de voto. Para além disso, o facto de existirem mais de 150 mil pessoas que votaram no “Tino de Rans” para Presidente da República mostra o estado miserável a que chegou o interesse dos portugueses pela política e a credibilidade que esta lhes merece.

Ter | 19.01.16

Partilhar sem ler

fcrocha

Lembram-se do editorial desta semana e de vos ter falado das pessoas que partilham informações na Internet sem as lerem? Vejam estes dois exemplos: um foi partilhado por uma técnica da Rota do Românico, o outro por uma vereadora da Câmara Municipal de Lousada. É certo que Vasco Granja morreu, mas não foi ontem, foi em Maio de 2009.

 

Captura de tela 2016-01-19 14.46.56.png

Captura de tela 2016-01-19 14.47.26.png

 

Sex | 15.01.16

Hoax

fcrocha

Esta palavra inglesa significa “embuste” ou “intrujice” e é um termo utilizado na Internet para definir as mensagens e imagens que contêm informações falsas, inventadas, forjadas ou distorcidas acerca de pessoas, factos ou acontecimentos reais, de ordem individual, local ou mundial.

 

Vem isto a propósito de suposta notícia que tem sido partilhada em massa nos últimos dias com o título “As 9 piores cidades/municípios para viver em Portugal”. Nesta lista constam cidades como Amarante, Marco de Canaveses, Paredes ou Vizela. Cliquei na suposta notícia e, para além de uma fotografia de cada umas das cidades referidas, há apenas um parágrafo sobre o assunto que diz: “A lista foi elaborada com base nas estatísticas do INE e tem como fundamento diversos factores que, regra geral, são considerados como indicadores de qualidade de vida. Entre eles está o acesso à educação, saúde, cultura, emprego e espaços verdes”. Sobre o tal estudo, nem uma palavra.

 

Para que isto fosse uma notícia, seria indispensável que fosse publicada por um órgão de comunicação social e assinada por um jornalista. Ora, o site que divulga este falso artigo só publica textos virais e sensacionalistas, não tem qualquer contacto telefónico ou físico e vive apenas da publicidade que alicia com essas pseudonotícias virais.

 

Também não é verdade que o INE tenha alguma vez publicado um estudo sobre as melhores ou piores cidades para se viver em Portugal. O autor do site encontrou na Internet um trabalho académico de uns alunos da Universidade da Beira Interior, com mais de 15 anos, e decidiu publicar como se fosse actual e dele se pudessem extrair as tais conclusões.

 

Posto isto, importa perceber com que propósito são criadas estas notícias falsas e qual a sua origem. Uma boa parte é inventada por pessoas que se querem divertir, outra por pessoas que querem atrair visualizações aos seus sites e com isso conseguir publicidade paga e outra por quem pretende fazer manobra política de massas. A sua acção é ajudada pela grande propensão dos utilizadores médios das redes sociais de lerem apenas os títulos e partilharem o conteúdo sem o lerem. No que se refere a esta falsa notícia, consegui vê-la partilhada por pessoas que supostamente têm boa formação e algumas até ligadas à área do jornalismo. Certamente não terão partilhado por distracção.

 

É verdade que nunca dispusemos de tantos meios de comunicação. Qualquer um pode partilhar uma notícia no Facebook, Twitter, WhatsApp ou Instagram. No entanto, temos uma sociedade que não distingue o real do ficcionado e tende a acreditar em qualquer coisa que tenha a estrutura de uma notícia tradicional.

 

A falsa notícia sobre as piores cidades para se viver espalhou-se com rapidez. Acredito que uma grande parte das partilhas foi utilizada como manobra política, com o objectivo de levar uma parcela considerável do público a formar opiniões equivocadas ou distorcidas sobre os municípios em causa.

 

Quem ganha com isto? A maldade, a ignorância e, certamente, algumas pessoas interessadas em política e poder.

 

Quem perde? Todas as pessoas que prezam a verdade.

Qui | 07.01.16

Não foi ninguém

fcrocha

Começamos o ano com o país em campanha eleitoral para a eleição do próximo Presidente da República. Por estes dias, a campanha tem posto a descoberto a parte menos bonita (há alguma parte que seja bonita?) da política. Comecemos pelo início. Em 2006, Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais com 50,5% dos votos. Nas eleições de 2011 a percentagem de portugueses que votaram no actual Presidente subiu para 53,2%. Ora, estes dados, publicados pela Comissão Nacional de Eleições, ao fim de cinco anos, parecem ter sido inventados. Na verdade, julgando pelas conversas de café, pelas opiniões ouvidas na rua, pelos artigos de opinião dos vários jornais, parece que ninguém votou em Cavaco Silva. Até Marcelo Rebelo de Sousa, que foi apoiante de Cavaco Silva e Conselheiro de Estado escolhido por ele, parece não ter votado no professor de Boliqueime. Hoje, todos negam ter votado em Cavaco Silva, alguns até fogem dele como em África se fugia dos leprosos. É que ninguém, mas mesmo ninguém, votou nele.

Quer ser candidato? É certo que qualquer português com mais de 35 anos e no gozo de todos os seus direitos civis e políticos pode ser candidato à Presidência da República. Ao olhar para a lista de candidatos, percebe-se que passou a haver uma banalização da democracia, onde qualquer um acha que pode concorrer. Ao assistir a debates com um formato “tudo ao molho e fé em Deus” e com intervenções irrelevantes e despropositadas, sinto que se gera uma indiferença nos eleitores até pelas propostas dos candidatos.

O comentador e o candidato não são a mesma pessoa? Outro dos aspectos que foram postos a nu nesta campanha foi a capacidade que os candidatos têm para dar o dito por não dito. O exemplo mais flagrante é o de Marcelo Rebelo de Sousa. Para tentar “agradar a gregos e a troianos”, o ex-comentador foi capaz de mudar de opinião em assuntos de matriz ideológica. Sempre que é confrontado com um assunto mais polémico e o entrevistador o questiona sobre se, caso fosse Presidente, promulgaria ou vetaria esta ou aquela medida, o professor limita-se a dizer que seguirá sempre a decisão da Assembleia da República. Ou seja: o comentador Marcelo Rebelo de Sousa tinha opinião sobre tudo em geral; o candidato Marcelo Rebelo de Sousa não tem opinião sobre nada em particular. Caso vença as eleições, será certamente por ser o mal menor e, acima de tudo, por falta de comparência de candidatos com perfil para o cargo.