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alinhamentos

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Qui | 28.05.15

Realizações e alarmismos

fcrocha

Há aproximadamente um ano, entrevistei o presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João, António Ferreira, sobre o encerramento do Serviço de Urgências de Valongo. Na altura, explicou-me que se tratava de eliminar “redundâncias inúteis e prejudiciais do ponto de vista técnico e assistencial” e que esse serviço seria transferido para o Hospital de São João, no Porto. Ao mesmo tempo, garantiu que o Hospital de Valongo passaria a ter uma oferta de cuidados de saúde de grande valor e diferenciação que passariam a estar mais próximos da população do concelho, entre os quais se previam consultas de várias especialidades e um centro de hemodiálise público.

 

Na altura da entrevista, um grupo de pessoas manifestava-se contra aquela decisão e acusavam António Ferreira de estar a enganar a população de Valongo. Entre esses poucos, mas ruidosos, manifestantes encontrava-se o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro.

 

Menos de um ano depois, o Hospital de Valongo tem um serviço de consultas de especialidades tais como Medicina Interna, Cirurgia Geral, Ortopedia, Anestesiologia, Cirurgia Vascular, Cirurgia Plástica, Dermatologia, Endocrinologia, Gastrenterologia, Urologia, Pediatria e Nutrição, passou a contar com uma viatura de Serviço Imediato de Vida sob gestão do Centro Hospitalar e, na semana passada, ficámos a saber que está em curso, tal como tinha sido prometido por António Ferreira, a criação, nas instalações do hospital, do centro de hemodiálise e diálise peritoneal público, para doentes crónicos, o que ainda não existe no Serviço Nacional de Saúde.

 

Certamente, daqui a um ano, quando este serviço estiver a funcionar, o presidente da Câmara Municipal de Valongo será convidado para a respectiva inauguração. Seguramente, irá elogiar o presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João por ter transformado um Serviço de Urgências que servia para “tratamentos de penso rápido” num serviço de especialidade e verdadeiramente útil à população do concelho. E, naturalmente, será o primeiro a pedir desculpa à referida população, por ter criado um alarmismo dispensável.

Qui | 21.05.15

De pequenino…

fcrocha

Estas últimas duas semanas têm sido férteis em notícias de crimes, agressões e vandalismo. Ao contrário do que acontecia há uns anos, esse tipo de notícia deixou de estar associado quase exclusivamente aos bairros problemáticos, aparecendo agora um pouco por todo o lado.

 

O novo mapa do crime é hoje muito mais do que a grande cidade. O novo perfil da delinquência é, em parte, o reflexo de uma educação permissiva e da demissão do exercício de paternidade. A omissão da família na educação das crianças começa a tornar-se visível não só por novas práticas de criminalidade, mas também pelo comprometimento, talvez irreversível, de grande parte de uma nova geração.

 

Javier Urra, um psicólogo forense de Espanha, escreveu o livro “O Pequeno Ditador”, que já vendeu 20 mil exemplares no nosso país. O livro ajuda os pais a evitarem que os seus filhos se transformem em pequenos ditadores, estabelecendo limites aos seus comportamentos e revelando regras fundamentais na educação. Na perspectiva de Javier Urra, as crianças de hoje olham para os pais como uma caixa Multibanco: dão-lhes dinheiro para tudo, compram-lhes todas as novidades e, quando não as compram, exigem-nas, seja em casa, seja na loja ou no supermercado.

 

A maioria dos pais parece não se aperceber de que isto se passa. Alguns apercebem-se, mas acham que é uma fase que vai passar, que é uma situação que vai melhorar. Mas, se os pais não fizerem nada, só vai piorar.

 

A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm ajudado ao aparecimento dos pequenos delinquentes. A cada dia que passa, há a sensação de que há mais jovens a cometer crimes. Por exemplo, no ano passado, houve mais de três mil denúncias contra menores que agrediram os pais. Mas creio que este número possa ser maior, uma vez que, em regra, as mães não denunciam os filhos. Quem denuncia é o médico, o vizinho…

 

Para resolver o problema da delinquência é preciso ir às causas profundas e a vigente pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise de autoridade pode conduzir-nos a um futuro pouco pacífico.

Qui | 14.05.15

Dom Álvaro

fcrocha

 

Escrevo este editorial no dia 12 de Maio, dia em que a Igreja celebra pela primeira vez a festa do Beato Álvaro del Portillo, beatificado no passado dia 27 de Setembro. O dia seguinte, a Igreja dedica-o a Nossa Senhora de Fátima. Dom Álvaro, visitou Portugal 20 vezes, em todas essas ocasiões visitou o Santuário de Nossa Senhora de Fátima.

 

São Josemaria escolheu Álvaro desde muito novo para o ter a seu lado como seu mais próximo colaborador, vindo a tornar-se no seu primeiro sucessor à frente do Opus Dei. “Jesus te me guarde, Saxum. E é o que és. Vejo que o Senhor te empresta fortaleza, e torna operativa a minha palavra: saxum!” Foi desta forma que São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, numa carta que lhe escreveu em Março de 1939, baptizou Dom Álvaro del Portillo de Saxum.

 

Álvaro del Portillo nasceu a 11 de Março de 1914, em Madrid, Espanha. Cresceu numa família profundamente cristã e aprendeu com os pais a viver os costumes cristãos, a cuidar das orações da manhã e da noite, a abençoar à mesa, a rezar o terço e outras invocações marianas que repetiu até à morte. Era doutorado em Engenharia Civil, em Filosofia e em Direito Canónico.

 

Em 1935, incorporou-se no Opus Dei, instituição da Igreja Católica fundada sete anos antes por São Josemaria Escrivá. Em 1945, foi ordenado sacerdote pelo bispo de Madrid, tendo-se mudado para Roma em 1946. Entre 1947 e 1950 expandiu o trabalho do Opus Dei a várias cidades italianas e promoveu várias actividades de formação cristã. Sinal do trabalho marcante que realizou em Itália são as várias ruas e praças que lhe foram dedicadas em diversas localidades do país. A 29 de Julho de 1948 tornou-se reitor do Collegio Romano della Santa Croce, onde ensinou Teologia Moral.

 

Durante a sua estadia em Roma, vários Papas, de Pio XII a João Paulo II, chamaram-no para desempenhar inúmeros encargos apostólicos como membro consultor em 13 organismos da Santa Sé. Durante o Concílio Vaticano II desempenhou várias tarefas importantes a pedido dos Papas João XXIII e Paulo VI.

 

Dom Álvaro permaneceu sempre ao lado de São Josemaria até à sua morte, em 26 de Junho de 1975. Em 15 de Setembro desse mesmo ano foi eleito para lhe suceder à frente do Opus Dei. Em 28 de Novembro de 1982, João Paulo II erigiu o Opus Dei em prelatura pessoal e nomeou como Prelado Dom Álvaro. Em 7 de Dezembro de 1990 ordenou-o bispo, na Basílica de São Pedro.

 

Enquanto esteve à frente do Opus Dei, Dom Álvaro promoveu o início do trabalho do Opus Dei em 20 novos países e esteve 20 vezes em Portugal: 12 a acompanhar São Josemaria e oito como Prelado do Opus Dei.

 

Álvaro del Portillo faleceu em Roma na madrugada de 23 de Março de 1994, poucas horas depois de regressar de uma peregrinação à Terra Santa. Na véspera, tinha celebrado a sua última Missa na Igreja do Cenáculo, em Jerusalém.

 

Com o seu exemplo e os seus ensinamentos, Dom Álvaro inspirou muitas pessoas a procurar a santidades nas relações profissionais, familiares e sociais.

 

Qua | 06.05.15

Os prejuízos da TAP e os dos seus passageiros

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Escrevo este artigo na qualidade de passageiro da TAP prejudicado pela greve dos pilotos actualmente em curso: em vez do voo directo Porto-Berlim que eu tinha reservado, obrigaram-me a trocar de companhia aérea, fazer escala em Barcelona e gastar quase um dia para fazer uma viagem que, em circunstâncias normais, demoraria pouco mais de três horas. Como gozo do privilégio de escrever neste espaço, posso usá-lo como meio de exprimir a minha irritação, mas tenho a certeza de que há milhares de passageiros tão irritados ou mais do que eu, consoante a dimensão dos seus prejuízos particulares ou profissionais.

 

Fará algum sentido o Governo investir na promoção do turismo nacional, quando a primeiro contacto desses turistas com o nosso país é muitas vezes feito através de uma companhia aérea ligada a greves ou atrasos incompreensíveis? Dificilmente essa primeira impressão será a melhor.

 

Fará algum sentido manter uma companhia de bandeira, com todos os custos que isso acarreta para o país, quando na Europa isso já quase não existe? Por exemplo, países como a Suíça, Espanha e Itália abdicaram das companhias aéreas de bandeira porque não tinham capacidade financeira para as sustentar. Por outro lado, alguns dos argumentos usados pelos opositores à privatização são de um nacionalismo tal que faria corar o próprio Doutor Oliveira Salazar.

 

Até agora, os pilotos da TAP faziam greves alegando serem em defesa da empresa. Há duas semanas, ficámos a saber, através de um documento divulgado por um ex-governante, que os pilotos são contra a privatização da TAP, a não ser que lhes dêem 20 por cento das acções. Esta semana, ficámos a saber que o piloto da TAP que é simultaneamente assessor financeiro do sindicato dos pilotos recebeu, só pelo seu desempenho na organização desta greve, qualquer coisa como 170 mil euros.

 

A TAP tem hoje um passivo muito elevado, uma estrutura e um modelo empresarial impossíveis de manter, muitos vícios acumulados, necessita urgentemente de uma injecção de capital (uma conta que será a dividir pelos contribuintes) e, perante a actual chantagem exercida pelos pilotos, torna-se quase impossível de privatizar. O que restará ao Governo? Deixar de intervir na gestão da TAP, deixando-a, pura e simplesmente, fazer o percurso natural de uma empresa nesta situação, a falência?