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alinhamentos

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Qui | 26.03.15

Editorial: Álibi político, caso judicial e Maçãs podres no pomar eleitoral

fcrocha

 

Álibi político, caso judicial. Até agora, os apoiantes de José Sócrates tentaram sempre fazer da sua prisão um caso político, quando, na verdade, é um caso de justiça. Até agora, os partidários do ex-Primeiro-Ministro defenderam a tese de que tudo não passava de uma “estratégia” montada pelo procurador do Ministério Público Rosário Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre. Ora, na semana passada, um colectivo de juízes do Tribunal da Relação de Lisboa, que não conhecia o processo e o consultou pela primeira vez, decidiu, por unanimidade, que existem “fortes indícios” de José Sócrates ter praticado os crimes de evasão fiscal, branqueamento de capitais e corrupção passiva. No acórdão, os juízes chegam mesmo a escrever que “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm”. Falta, portanto, apurar, em tribunal, de onde lhe vieram os figurados cabritos que parece ter ou ter tido, dados ou emprestados. Para ter de dar contas à justiça, parece ser mais do que suficiente.

 

Maçãs podres no pomar eleitoral. Lá diz o povo: “Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades”. Vem isto a propósito de mais um amuo entre Celestino Neves, deputado eleito pelo PS para a Assembleia Municipal de Valongo, e José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara Municipal. Durante a última campanha eleitoral autárquica, foi distribuído no concelho de Valongo um panfleto anónimo intitulado “Polvo à Vallis Longus”, que tinha o objectivo de difamar João Paulo Baltazar e outras pessoas ligadas à anterior gestão autárquica do PSD, inventando uma relação corrupta entre várias entidades do concelho. Na altura, por se tratar de um folheto anónimo, os visados não conseguiram agir criminalmente contra os autores. Agora, com a denúncia feita por Celestino Neves – à qual juntou cópia das conversas tidas através do Facebook com o actual presidente da Câmara de Valongo enquanto, alegadamente, preparavam o tal folheto anónimo – ficamos a saber quem são os autores da campanha difamatória. A confirmar-se, este episódio e outros que se foram conhecendo ao longo do último ano naquele concelho vão pondo a nu meios pouco dignos de que alguns políticos se servem para alcançar o poder.

 

Qui | 19.03.15

Os novos mártires

fcrocha

 

Já escrevi neste mesmo espaço sobre a perseguição aos cristãos que vivem em alguns países do Médio Oriente e as verdadeiras atrocidades que são cometidas contra aquelas pessoas. Esta semana, voltou a acontecer no Paquistão, onde um duplo atentado a dia igrejas causou um banho de sangue.

 

Não se compreende como é que a comunidade internacional, de forma negligente, não reage a esta perseguição religiosa em forma de genocídio que se está a estender a aquela região.

 

Por isso, partilho consigo um texto da jornalista Raquel Abecasis que é ilustrativo do que se está a passar.

 

“Não sei o que podemos fazer para acabar com esta tragédia, mas sei que cada um de nós pode fazer uma coisa: não ser indiferente, rezar, pensar, preocupar-se.

 

Mais um dia, mais um banho de sangue cristão derramado em duas igrejas paquistanesas. O duplo atentado em Lahore, a segunda cidade do Paquistão, provocou pelo menos mais 14 mortos e 78 feridos.

 

A poucas horas de avião, há homens e mulheres para quem ter fé é uma questão de vida ou de morte e o sacrifício das suas vidas não pode, nem deve, ser-nos indiferente.

 

Num mundo globalizado em que, mais do que negócios e conhecimento, devíamos globalizar uma civilização, há seres humanos a serem mortos com requintes de barbárie por causa da religião que professam ou porque representam uma cultura em que todos os seres humanos são iguais.

 

Se isto não é suficiente para nos inquietar e para fazer soar todas as campainhas no nosso mundo confortável, não sei o que será. Enquanto andamos preocupados com a nossa crise, o mundo está a ruir aqui muito perto e um dia os nossos netos vão perguntar-nos: como foi isto possível?

 

Não sei o que podemos fazer para acabar com esta tragédia, mas sei que cada um de nós pode fazer uma coisa: não ser indiferente, rezar, pensar, preocupar-se.

 

Sempre que entrar numa igreja, passear na rua sem medo de ser raptado e morto ou estiver livremente em locais onde todos, homens e mulheres, são iguais, lembre-se que do outro lado da fronteira há pessoas iguais a nós, com nome e apelido, que são mortas por coisas que para nós são tão simples.

 

É o mínimo que podemos fazer para merecer o sangue destes mártires que seguramente já conquistaram o seu lugar no paraíso.”

 

Qui | 12.03.15

Sem políticos não há democracia

fcrocha

 

Parece-me politicamente grave que o Primeiro-Ministro tenha chegado ao poder com dívidas à Segurança Social. Parece-me politicamente mais grave a trapalhada em que se meteu: num primeiro momento, Pedro Passos Coelho não sabia que tinha que pagar à Segurança Social; depois, sabia que tinha que pagar, mas tinha-se esquecido; quando se lembrou, não tinha dinheiro para pagar. Esta argumentação pode até ser verdadeira, mas não deixa de ser grave politicamente.

 

É claro que Pedro Passos Coelho conhecia a obrigação de pagar à Segurança Social e que, ao fugir ao seu cumprimento, cometeu uma falha grave. Por outro lado, as explicações que vai dando para tudo isto são patéticas e vão tornando tudo ainda mais grave, politicamente falando. No entanto, confundir a gravidade política do atraso de um pagamento à Segurança Social com a gravidade da gestão danosa e muitas vezes criminosa imputada a outros políticos é misturar alhos com bugalhos.

 

Como este episódio da dívida de Passos Coelho à Segurança Social fez desencadear entre alguns fazedores de opinião o discurso alarmista de que os políticos são todos uns malfeitores, é preciso que não se confunda a gravidade de um incumprimento no pagamento de um imposto ou de uma contribuição com situações bem diferentes de condenação ou indiciação pela prática de crimes de corrupção ou de branqueamento de capitais, de gravidade muitíssimo superior.

 

Se é verdade que temos tendência para desculpar as nossas próprias faltas – quem, tal como eu, já teve alguma actividade de prestação de serviços e pode dizer que não ficou a dever, uma vez que fosse, à Segurança Social?... – mas não as dos políticos, por acharmos que eles têm o dever de dar o exemplo, é preciso estar com atenção para o perigo de se continuar com este discurso antipolíticos, metendo todos no mesmo saco, pois pode conduzir-nos a uma anarquia.

 

Isso mesmo já percebeu o líder do Partido Socialista. Ao afirmar que este é um assunto que tem que ser julgado pelos eleitores nas próximas eleições, António Costa está a fazer com que este assunto seja conduzido para o lugar certo: o espaço político. É certo que muitos dirão que António Costa faz isto porque também tem ou teve situações fiscais por regularizar, mas a verdade é que o líder do PS elevou o discurso político.

 

Querer passar para a opinião pública a ideia de que os políticos são todos uns bandidos é criar condições para a multiplicação dos demagogos e a sua elevação em direcção ao poder, o que só pode conduzir o país ao caminho da anarquia. Para haver democracia, tem que haver políticos. E tem que haver também um povo que assuma a responsabilidade de os escolher bem.    

 

Qui | 05.03.15

Editorial: Muita parra e pouca uva e Postos de trabalho reais

fcrocha

 

Muita parra e pouca uva. Desde há alguns dias que quem passa por Lousada depara com grandes cartazes que exibem uma caricatura das relações familiares entre o presidente da Câmara Municipal local e algumas pessoas nomeadas por este para cargos de confiança. Os cartazes, embora estejam assinados pela JSD, em boa verdade são uma estratégia de oposição do PSD. Pessoalmente, não vejo mal algum em que um presidente de câmara nomeie para um cargo da sua confiança política alguém em quem confie, desde que seja competente e a lei assim o permita. No entanto, os cartazes da oposição “laranja” levam-me a outras ilações: como já passou quase um ano e meio desde que o socialista Pedro Machado tomou posse como presidente da Câmara e a grande crítica do PSD ao exercício do seu mandato, aparentemente, é a relação de parentesco entre eleitos e assessores, ou o PS está a governar o município com competência ou a oposição é fraquinha e não consegue apontar problemas nem tem propostas válidas de soluções.

 

Postos de trabalho reais. Há uns tempos, em conversa com o Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, questionei-o sobre o facto de não apresentar publicamente investimentos de muitos milhões de euros e com várias centenas de postos de trabalho feitos no seu concelho, ao contrário do que tem sido tendência e prática nos concelhos vizinhos. Na altura, Antonino de Sousa respondeu-me que os investimentos empresariais em Penafiel são à dimensão do concelho, mas “reais”. Deu-me até como exemplo algumas empresas que tinham criados alguns novos postos de trabalho, umas cinco, outras seis ou sete, relativamente poucos, mas reais. Esta semana, aproveitando as comemorações do 3 de Março, foram apresentados investimentos que vão criar 150 postos de trabalho naquele concelho. Mais uma vez, à medida da realidade concelhia: 150 postos de trabalhos divididos por nove empresas. Na verdade, de nada vale apresentar investimentos de milhões, rodeados de pompa e circunstância, mas que na realidade não passam de intenções não concretizadas.