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alinhamentos

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Sex | 28.02.14

Maravilhosamente mal!

fcrocha

 

  

Há uns tempos, fui convidado para participar numa tertúlia que se realizou em Lisboa sobre se ainda há espaço para as boas notícias. Recordo-me de que, na altura, dei alguns exemplos de notícias positivas que foram a manchete do VERDADEIRO OLHAR. Um deles foi o projecto APPIS – Associação Paredes pela Inclusão Social –, que tinha como objectivo combater o abandono e o insucesso escolar no concelho de Paredes.

 

Na semana passada, telefonou-me uma das pessoas que organizaram a tertúlia, assinante do nosso jornal, que me perguntou: “Olha lá: o que é feito da APPIS? Há muito tempo que o VERDADEIRO OLHAR não nos conta nada...”. Por casualidade, no dia seguinte, um amigo meu escreveu-me um e-mail a pedir informação sobre a mesma associação.

 

Costumo guardar os artigos que escrevo, para, entre outras razões, não me repetir na minha coluna semanal. Fazendo uma breve pesquisa, comprovo que a última vez que falei sobre este assunto foi há mais de dois anos. Que barbaridade! Como o tempo passa!...

 

À pergunta da primeira pessoa que atrás referi que me telefonou, respondi: “A APPIS está maravilhosamente mal!” Eu explico:

 

A APPIS nasceu em 2007 e foi apadrinhada pelo Presidente da República, que fez questão de vir a Paredes assistir à sua constituição. Lembro-me de que estiveram presentes mais de 40 empresários, todos, aparentemente, disponíveis para colaborar financeiramente neste projecto, que pretendia combater o abandono e o insucesso escolar, indicadores que punham o concelho entre os piores do país. A ideia era nobre, mas, assim que o Presidente da República regressou a Belém, alguns daqueles empresários deixaram de dar apoio à iniciativa. Como a crise também afecta gente generosa, outros houve que não puderam continuar a colaborar. Hoje, apenas três ou quatro empresários continuam, através da sua política de responsabilidade social, a contribuir para o sustento da associação. E é por isso que a APPIS está mal, muito mal!

 

Mas, ao mesmo tempo, também está maravilhosa, uma vez que, nestes quase sete anos, o projecto já abrangeu mais de 4 mil alunos, com uma taxa de sucesso de quase 70% no 3.º ciclo e mais de 86% no 2.º ciclo. No ano passado, os 10 mediadores da APPIS acompanharam 773 alunos, com resultados que fazem com que todos os agentes envolvidos – mediadores, responsáveis escolares, pais, alunos, empresários e autarquia – defendam a continuidade do projecto.

 

Mas, se apenas três ou quatro empresários colaboram, como é que possível manter viva a APPIS? Apenas porque, desde 2010, ao financiamento assegurado pelos tais três ou quatro resistentes se juntaram fundos camarários e outros resultantes de candidaturas a projectos co-financiados de carácter nacional e internacional.

 

Certamente que cada euro gasto com cada um dos alunos acompanhados será devolvido à sociedade multiplicado por milhares de vezes.

 

Sex | 21.02.14

Uma foto que me recorda tempos felizes e inocentes

fcrocha

 

 

Esta foto do meu tempo da escola primária recorda-me outros tempos. É do tempo em que os meus pais não me iam levar nem buscar à escola. O tempo em que eu ia a pé para a escola. Íamos todos, morássemos longe ou perto da escola. Os móveis da sala eram a mesa da professora, um armário simples e as carteiras. As carteiras eram de tampo inclinado, assento em madeira pegado às carteiras e havia uma ranhura para colocar os lápis e canetas. Esta foto faz-me lembrar o tempo em que a minha professora primária era muito respeitada pelos meus pais, que até lhe davam liberdade para me castigar caso fosse necessário. Ai de mim se fizesse queixa aos meus pais: levava a dobrar. Mas, acima de tudo, esta foto recorda-me tempos felizes e inocentes em que me contentava com pouco e quase nada chegava para me fazer feliz.

Qui | 20.02.14

A gravidez e a crise

fcrocha

 

 

Na tarde da passada sexta-feira, fui ao Porto, a uma reunião de trabalho. Como a reunião era na Baixa da cidade, fui – como habitualmente – de comboio. Na viagem de regresso, a meio da tarde, quando o comboio parou na estação de Campanhã, subiu uma jovem bonita, elegante e visivelmente grávida. Sentou-se no banco à minha frente e ao lado de uma senhora que deveria ter uns 60 anos. A senhora olhou-a com um sorriso e rapidamente meteu conversa com ela. Como a conversa era mesmo em frente a mim, fiquei a saber que a jovem, embora não parecesse ter idade para isso, estava já na terceira gravidez e que o seu filho se iria chamar João Pedro. Quando o comboio chegou a Cete, a senhora mais velha saiu, acariciou de forma amável a enorme barriga da jovem e desejou-lhe as maiores felicidades. Eu saí em Paredes e a jovem seguiu viagem.

 

O que mais me chamou a atenção, neste pequeno episódio, foi a amabilidade e a alegria da senhora mais velha. A alegria com que falava da gravidez, dava conselhos e o gesto bonito e carinhoso como expressava abertamente o amor pela vida e o respeito e admiração pela jovem grávida.

 

Tudo isto me fez pensar que apoiar a maternidade é uma medida eficaz para sair da crise. Confesso que me dá pena que o Governo não olhe para uma mulher grávida como uma mais-valia para o país que pode ajudar a prevenir crises futuras. Custa-me perceber que se continuem a fazer cortes nos apoios à maternidade, cortes esses que deixam muitas mulheres grávidas vulneráveis e em risco de exclusão social, ao mesmo tempo que esses cortes não afectaram num único cêntimo a política de financiamento do aborto nos hospitais públicos e o apoio dado às mulheres que o decidem fazer (recorde-se que uma mulher que faça um aborto tem direito a um subsidio de maternidade). O país faz cortes na saúde, nas pensões, obriga as famílias a passar por necessidades, mas não cortou no financiamento do aborto público.

 

Uma sociedade só se consegue aguentar se existir crescimento geracional. No entanto, no nosso país há um défice de crianças e não se fomenta a natalidade. Parece-me necessário que a natalidade seja reconhecida como um bem social a proteger e um factor imprescindível de progresso e bem-estar social. Esse apoio à maternidade não se faz apenas com dinheiro – é necessário que se criem políticas laborais que não façam com que uma mulher grávida seja obrigada a escolher entre a profissão e o filho. É preciso conciliar o trabalho com a vida familiar.

 

Quem dera que os nossos governantes tivessem pela maternidade o mesmo olhar carinhoso e alegre que aquela senhora mais velha teve para com aquela jovem grávida...

Ter | 18.02.14

Os autarcas na era da transparência

fcrocha

 

 

Vivemos uma época em que cada vez mais se impõe transparência nas decisões políticas. Se isto é válido para todos os governantes, é muito mais para os autarcas, devido às suas políticas de proximidade. A transparência não é uma escolha que os autarcas vão poder fazer, é uma realidade que acontecerá independentemente da vontade de cada presidente de Câmara.

 

O aspecto mais complicado desta nova realidade é que os presidentes de Câmara vão perder o controlo da informação que circula dentro da autarquia e da que sai para as páginas dos jornais. Isso trará um aspecto positivo: quanto menos controlada for a informação, mais credibilidade terá no público. Mas também trará um aspecto negativo: se a informação sair descontextualizada provocará um desvanecimento na reputação dos autarcas.

 

Isto leva-me a uma questão: fará sentido manter gabinetes de comunicação que fazem pouco mais do que enviar uns press releases? Por muito impacto que esses press releases tenham nos meios de comunicação social, essa terá que deixar de ser a unidade de medida do trabalho do gabinete de comunicação. O trabalho terá que ser medido pelo impacto que teve no comportamento das pessoas. É necessário que os gabinetes de comunicação passem a produzir boas histórias. Mais do que factos, as pessoas gostam de histórias que lhe digam alguma coisa. Cada medida tomada, certamente, produzirá uma história que exemplificará e justificará a decisão. História essa que tem que ser contada ao público.

 

Mais cedo ou mais tarde as pessoas vão descobrir como é que é gerido o município. Se tiver sido gerido sem transparência, tudo se vai desmoronar. Se a gestão tiver sido transparente e explicada, as pessoas compreenderão cada decisão tomada, mesmo perante o ruído das oposições.

Sab | 15.02.14

Morreram 120 mil pessoas

fcrocha

 

 

Esta semana assinalaram-se sete anos desde que passou a ser legal fazer um aborto em Portugal. Neste período de tempo, terão morrido vítima de aborto, pelo menos, 120 mil crianças. Para se ter uma noção das crianças que se mataram, era como se, de repente, matássemos todos os habitantes dos concelhos de Paredes e de Lousada. Um país que fecha escolas porque não há crianças, manda professores para o desemprego porque não há a quem dar aulas, encerra tribunais porque não há pessoas, dá-se ao luxo de pagar para matar crianças nos hospitais públicos. Para além do aborto ser gratuito, as mulheres que o fazem têm direito a receber subsídio de maternidade. Não lhes parece uma incoerência que um país que corta pensões a idosos porque não tem dinheiro, pague subsídio de maternidade a mulheres que não são mães?

Qui | 13.02.14

A ESPERANÇA DE PODER TER ESPERANÇA

fcrocha

À semelhança de muitos dos leitores, senti – e sinto – na pele o que é a crise. Por exemplo, no jornal, fomos obrigados a ajustar-nos à crise, com consequências para cada uma das pessoas que aqui trabalham. Em casa, a minha família sentiu com a crise e tivemos que nos adaptar a uma realidade diferente. Por isso, sei muito bem que tudo isto provoca más notícias. Mas também sei que nem tudo são más notícias. Por isso, custa-me ver diariamente as más notícias de sempre a receberem destaque de abertura dos telejornais e as boas notícias que vão aparecendo a serem ignoradas ou silenciadas. Choca-me ainda mais quando essas boas notícias são fruto dos sacrifícios que a maioria dos portugueses têm passado. É como se as boas notícias provocassem mal-estar a quem tem obrigação de as divulgar. Um exemplo: é certo que o desemprego se mantém elevado, mas cai há 10 meses consecutivos; há meio ano, dizia-se que o défice seria um descalabro, mas há poucos dias a Direcção-Geral do Orçamento veio dizer que o défice ficará abaixo da meta imposta pela troika; há um ano, anunciava-se a espiral recessiva da economia portuguesa, mesmo que hoje todos os indicadores económicos mostrem um crescimento económico. É certo que continuaremos a sentir na pele as consequências da crise, mas não é menos verdade que Portugal está a recuperar. Esconderem-nos isto é roubar a esperança a milhares de portugueses que sofrem diariamente.

Qua | 12.02.14

O esquema é sempre o mesmo

fcrocha

Antes das eleições autárquicas entrevistei Humberto de Brito, na altura, candidato do PS à Câmara Municipal de Paços de Ferreira. Uma das perguntas que lhe fiz foi: “Tem criticado a PFR Invest. Se for eleito vai acabar com essa empresa municipal?”. A resposta: “Claramente que sim. Recentemente, li um livro de Fernando Costa, o presidente de Câmara Municipal de Caldas da Rainha, que diz que as empresas municipais só servem para dar emprego ao partido e aos amigos do partido que está no poder. A PFR Invest não tem nenhum fim que a Câmara Municipal não possa por ela própria exercer. A PFR Invest serve para a Câmara Municipal esconder dívida”.

 

Quase quatro meses depois de Humberto de Brito vencer as eleições e tornar-se o presidente do município pacense, não só não encerrou a empresa, como fez convites para a presidência do conselho de administração e terá mesmo contratado um amigo para desempenhar funções nessa empresa municipal. Mudam os partidos, mudam os protagonistas, mas o esquema é sempre o mesmo.

Qua | 12.02.14

Uma vaca sem tetas

fcrocha

Parece que a solução para todos os males se resume à “criatividade”. Pelo menos parece ser isso o que pensam alguns dos autarcas da minha região. É certo que a criatividade pode ser um bom estímulo económico, mas desde que seja associada a algo de útil. Uma vaca sem tetas é uma coisa muito criativa. No entanto, sem tetas a vaca não produz leite e, consequentemente, não serve para nada.

Ter | 11.02.14

CASA ONDE NÃO HÁ PÃO TODOS RALHAM E NINGUÉM TEM RAZÃO.

fcrocha

O relatório IEVA define as 30 prioridades de investimento em infra-estruturas a nível nacional. Assim que foi conhecido, lá foram aparecendo os autarcas a lembrar que a sua prioridade é mais prioritária do que a dos outros. Foi em Penafiel com o IC35, foi em Coimbra com o comboio e será assim se formos perguntar a cada um dos presidentes de Câmara do país. Todos terão uma prioridade que devia estar inscrita no relatório IEVA. Rapidamente passaremos de 30 para, pelo menos, 308 prioridades. Não estou contra os autarcas da minha região que reclamam a construção do há muito prometido IC35. Mas compreendo que num país que não tem dinheiro seja provável que nessas 30 prioridades não caiba a construção de mais uma estrada. No entanto, fica por explicar o infomail que o deputado Mário Magalhães enviou à população do concelho de Penafiel a dar conta da sua grande conquista, que era a construção do IC35.

Sex | 07.02.14

ESTOU A ESCREVER APENAS PARA OS SENHORES

fcrocha

Depois de ler isto, experimente voltar a dizer que ela não faz nada. Quando lhes perguntaram “o que faz a sua mulher?”, quantas vezes responderam “não faz nada; está em casa e olha pelos miúdos”? A partir de agora, é melhor ter mais cuidado com as palavras. Uma consultora italiana decidiu calcular, a preços de mercado, toda a actividade profissional de uma dona de casa. A sua equipa entrevistou mais de seis mil mulheres para se perceber o que fazem diariamente: são cozinheiras, motoristas, dão explicações aos filhos, fazem a contabilidade e gerem as contas da casa, são técnicas de limpeza, de lavandaria, amas, etc. E agora a conclusão: somadas todas as horas, a preços de mercado elas valem quase sete mil euros por mês.

 

(A partir daqui, tudo o que eu escrever também se dirige às senhoras)

Qui | 06.02.14

Continuamos com tiques de ricos

fcrocha

Reconheço que não percebo nada de arte. Sei que Miró é um surrealista, espanhol e pouco mais. Confesso até que, depois de ler nos jornais tudo o que se tem falado sobre este assunto e ver na televisão as declarações de inúmeros políticos e comentadores sobre a importância da obra do pintor, sinto que devo ser o único em Portugal que não entendo mesmo nada de arte surrealista. Na minha ignorância, o que vou percebendo é que isto se tornou uma arma de arremesso político. Eu não sei se as obras devem ou não ser vendidas. Mas sei que foram compradas por 34 milhões de euros por um banqueiro que está acusado de ter defraudado o país. Também sei que podem ser vendidas, pelo menos, por 40 milhões de euros. É certo que esses 40 milhões de euros são uma gota de água no oceano de dívidas do país, mas são menos 40 milhões de euros que todos os portugueses terão que pagar com os seus impostos. Mesmo não percebendo nada de arte, até eu gostava de ter uns quadros de um pintor famoso nas paredes lá de casa, mas são coisas de rico, incompatíveis com um país pobre.

Qua | 05.02.14

A boa educação é moeda de ouro em toda a parte

fcrocha

Este fim-de-semana, os presidentes de Junta de todo o país juntaram-se para o congresso da Associação Nacional de Freguesias. Convidaram para o encerramento dos trabalhos (escrevi “convidaram” e não “fez-se convidado”) o ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro. Se antigamente apupávamos aquilo que os outros diziam depois de o terem dito, desta vez, os senhores que convidaram o ministro apuparam o convidado antes de ter conseguido falar. Estas vaias lembram-me que continuamos a eleger pessoas pouco educadas para cargos públicos e que, afinal, ficaram muitas freguesias por eliminar.

Qua | 05.02.14

Um anónimo identificado

fcrocha

Que sejamos notificados para responder a uma queixa apresentada na Comissão Nacional de Eleições contra o jornal, é uma coisa normal. Que essa queixa anónima venha acompanhada com o email original, contendo a identificação completa de quem apresentou a queixa “anónima”, já não me parece tão normal. Hoje recebemos a sexta queixa “anónima”, também esta acompanhada da identificação do denunciante. Se as anteriores foram feitas por políticos derrotados, esta foi apresentada por um jornalista de um jornalinho local. Quando a ignorância é muito, a tendência para a asneiras é enorme.