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alinhamentos

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Qui | 30.01.14

Quarenta horas semanais na função pública

fcrocha

 

 

O assunto voltou a estar na ordem do dia. Foi notícia quando o Governo fez aprovar uma lei que pretendia que os funcionários públicos trabalhassem as mesmas horas que os funcionários do sector privado. Voltou a ser notícia quando o Tribunal Constitucional aprovou a mesma lei. Será novamente notícia porque a maioria dos presidentes das câmaras da nossa região se prepara para contornar essa mesma lei e deixar tudo como está.

 

Ainda há pouco tempo, os funcionários públicos lutaram pela equidade entre o sector privado e o sector público quando estavam em causa os cortes que afectavam os empregados do sector público. No entanto, quando o assunto é cumprirem as mesmas horas de trabalho que a lei impõe ao sector privado, a equidade transforma-se em favoritismo.

 

A lei entrou em vigor em Setembro do ano passado. Entretanto, apenas as Câmaras Municipais de Paredes e de Valongo aplicaram a lei. A primeira, para entrar em vigor na próxima semana, a de Valongo suspensa por causa de uma providência cautelar apresentada por um sindicato. Mesmo assim, tudo leva a crer que nestas duas Câmaras Municipais tudo ficará como antes. Nas restantes, será como se nunca tivesse existido.

 

Ora, no acórdão que atestava a constitucionalidade da lei das 40 horas semanais, os juízes do Tribunal Constitucional explicaram aos presidentes de câmara como é que haveriam de contornar a lei e deixar tudo como está: basta que se juntem a um sindicato e escrevam um contrato colectivo de trabalho. O Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local percebeu a indicação e toca a fazer a minuta e recolher a assinatura dos senhores autarcas.

 

Ao que parece, as autarquias desta região não serão excepção a esta artimanha. Em Paredes, onde a lei já está em vigor, há até a tentativa de encontrar um argumento enternecedor: as chefias não acreditam que mais cinco horas de trabalho por semana (a multiplicar por centenas de funcionários) possa trazer benefícios ao resultado final. Isto levanta um de dois problemas: ou cinco horas de trabalho por funcionário não se notam no trabalho final porque não há trabalho para todos os funcionários municipais e a Câmara tem gente mais,  ou essas horas a mais não se reflectem no trabalho final porque as chefias não são eficientes na distribuição do trabalho. Neste caso, terá que se substituir as chefias.

 

Seja qual for o problema, a convergência entre os regimes da função pública e dos trabalhadores do sector privado é uma condição essencial para criar justiça, proporcionalidade e equidade no cenário laboral português. Cabe a quem governa corrigir essa desigualdade. Parece-me um acto de fraqueza fugir à aplicação de uma lei só para não se arranjar aborrecimentos com os funcionários.

Ter | 28.01.14

As tontices de Miguel Sousa Tavares

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No seu habitual comentário no Jornal da Noite da SIC, Miguel Sousa Tavares afirmou que as praxes académicas são “imbecilidades pró-nazis” e que, no seu tempo, “era uma vergonha ter 30 anos e ainda estar a estudar”.

 

Não ignoro que existem praxes de mau-gosto, ofensivas e mal-educadas. Mas também é verdade que há outras que são uma forma salutar de convívio universitário. Não ouvi dizer, falo por experiência própria. Eu fui praxado e não considero que tenha sido uma “imbecilidades pró-nazi”. A minha praxe deu-me a conhecer pessoas que ainda hoje fazem parte do meu círculo de amigos. Quando regressava das praxes, a única coisa que me doíam eram os maxilares, de rir de mim próprio. Por isso, catalogar tudo por igual e querer acabar com o todo porque a parte está estragada é antidemocrático. Deixe-se os reitores reunir com as comissões de praxe e depois eles saberão com sabedoria acabar com as que não prestam.

 

Ah! Já me esquecia: em vez de vergonha, eu tenho muito orgulho por ter estudado depois dos 30. Na verdade, até tenho muito orgulho nos meus colegas que terminaram a sua primeira licenciatura depois dos 30, 40 e alguns até depois dos 50.

Sex | 24.01.14

Sair da zona de conforto

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Ontem, fui jantar com dois amigos. O tema para o encontro (como se fosse preciso um tema para jantar com amigos) era um acontecimento de há 10 anos e uma nova aventura para meio deste ano. Passado este tempo, demos connosco a pensar: “Como é que fomos capazes? Eramos só dois contra meio mundo. E vencemos!” Na altura, senti medo. Mas, quando fazemos aquilo que nos dá medo, recuperamos o poder que o medo nos roubou. Olhando a esta distância, descobri que cada vez que saímos da nossa zona de conforto para lutar por algo que é justo mas que nos dá medo, ficamos mais fortes e, acima de tudo, mais livres.

Ter | 21.01.14

O melhor mesmo é não fazer ondas

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Vivo num país em que a cultura do “esforça-te e consegues!” não passa de pais para filhos. O que tem passado é a cultura do tudo dado. “Aguenta filho, há-de cair qualquer coisa para o nosso lado” ou “Alguém há-de fazer alguma coisa, que isto está que não se aguenta”. Ou seja, vivo num país que batalhou pouco pelo que tem. Talvez por isso é que sempre que aponto alguma coisa que está mal, ouço um coro de pessoas a dizer que tenho mau feitio ou ando à procura de chatices…

Seg | 20.01.14

O marido agrediu o marido?

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Conta a edição do DN de hoje que o ex-deputado do PSD e ex-presidente da JSD, Jorge Nuno Sá, agrediu o marido. Estas coisas deixam-me baralhado: o ex-deputado é marido de um senhor venezuelano? Isso quer dizer que o senhor venezuelano era a esposa? Os são os dois maridos um do outro? Ou serão esposa e marido alternadamente? Olha, expliquem lá isto a uma criança e depois digam-me que a adopção de um criança por dois maridos é uma coisa natural.

Seg | 20.01.14

Noves fora, nada.

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Às vezes chego à conclusão que há políticos que não entendem nada de estratégia política. Mas o que me choca é que não se façam assessorar de forma competente. O que terá passado pela cabeça de Pedro Passos Coelho para aprovar o texto da moção que lhe escreveram para levar ao congresso? Um líder necessita de ter maioritariamente o partido consigo. Isso é condição maior quando esse líder é um primeiro-ministro com a popularidade em baixo. Por isso, a moção teria que ser inclusiva de todas as facções para poder somar o maior número possível de apoios para as eleições legislativas que terá que enfrentar. Pedro Passos Coelho fez o inverso: pela primeira vez na história do seu partido, escreveu uma moção que exclui uma pessoa que representa uma facção com bastante popularidade. Passos Coelho começa esta caminha subtraindo. Ver-se-á qual será o resto quando chegar às eleições.

Sab | 18.01.14

A minha geração vai acabar com o aborto

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Martin Luther King Jr dizia que “as nossas vidas começam a terminar no dia em que guardamos silencio sobre as coisas que importam”. A defesa do valor intrínseco de toda a vida humana não tolera silêncios nem ambiguidades calculistas. Por isso, partilho este vídeo produzido pelo grupo pró-vida “Texas Alliance for Life” na altura em que passam 41 anos sobre a trágica decisão Roe versus Wade, onde a Suprema Corte dos EUA legalizou em toda a América o aborto por qualquer razão até aos nove meses. Desde essa altura, morreram pelo menos 57 milhões de bebés. Este vídeo apresenta 41 mulheres e meninas que confiadamente proclamam “A minha geração vai acabar com o aborto”.

 

Sex | 17.01.14

A fuga em frente

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Há muito tempo que se percebia que a Câmara Municipal de Paços de Ferreira estava praticamente falida. O elevado passivo e o facto de demorar mais de três anos a pagar as facturas eram sinais claros de uma gestão financeira pouco rigorosa. Parece até que depois da tomada de posse do novo executivo municipal chegaram mais facturas que não estavam registadas nas contas oficiais. No entanto, nada disto é novidade para o actual presidente da Câmara Municipal, pois passou toda a campanha eleitoral a afirmar que a dívida real era superior a 120 milhões de euros, quase o dobro do que afirmava o executivo anterior.

 

Ora, ao vencer as eleições autárquicas e tornar-se presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Humberto de Brito “herdou” um passivo que terá de gerir e, acima de tudo, tentar normalizar. Como disse em campanha eleitoral – e disse-o muito bem – a Câmara Municipal tem que ser uma pessoa de bem e cumprir os seus compromissos. É impensável que algumas empresas tenham acabado por fechar portas porque a administração pública, neste caso a Câmara Municipal, não tenha pago atempadamente. É inconcebível!

 

Vem isto a propósito da notícia da página 17 desta edição. O Município pacense tem o intento de rescindir o contrato para a recolha de lixo e limpeza das ruas com a empresa Suma, alegando que o serviço é mau e caro. A rescisão é uma figura jurídica presente em qualquer contrato e, portanto, nada há de extraordinário: se há incumprimento por parte de um dos outorgantes, o contrato pode ser cancelado. O problema é que, segundo o que disse Humberto de Brito ao VERDADEIRO OLHAR, “é mais vantajoso para a autarquia pagar uma eventual indemnização [à empresa] do que pagar os valores em dívida”.

 

Estranha-se esta declaração, já que, se não tiver sido um lapso, aparentemente revela má-fé por parte da autarquia, uma vez que, apesar de o Município de Paços de Ferreira ter estado, segundo o próprio autarca, quase cinco anos sem efectuar qualquer pagamento à Suma e de lhe dever quase 10 milhões de euros, mesmo assim, a empresa nunca deixou de prestar os serviços contratados. Parece, assim, de mau tom que, para resolver uma dívida, a autarquia recorra a expedientes de “mau pagador” para fugir às suas responsabilidades. Se não está satisfeito com o serviço, que cancele o contrato; o que não parece correcto é que use essa figura para não pagar os valores em dívida. O executivo municipal é novo, mas a entidade que representa e gere é a mesma que já existia antes de Humberto de Brito tomar posse. E este tinha assumido compromissos que tem agora a obrigação de cumprir.

Qui | 16.01.14

Um direito desumano

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Por: Gonçalo Portocarrero de Almada

 

Se se entende que duas pessoas do mesmo sexo podem ser dois bons 'pais' ou  'mães', porque não permitir que três ou mais indivíduos do mesmo sexo possam adoptar?!

 

No dia 17 de Maio de 2013, a Assembleia da República aprovou, na generalidade, a lei da co-adopção pelo parceiro do progenitor, em uniões de pessoas do mesmo sexo.

 

É por um imperativo de não-discriminação que se defende que também às uniões, ditas homossexuais, se reconheça o que já é permitido aos casais, ou seja, à união de um homem e uma mulher. Contudo, a justiça não obriga a tratar todos por igual, mas a dar a cada qual o que lhe é devido. A justiça fiscal discrimina os cidadãos em função dos seus rendimentos; se o não fizesse, seria profundamente injusta. Uma autarquia, uma sociedade anónima e uma associação de columbófilos podem ter personalidade jurídica, mas é razoável que a lei não lhes permita o casamento, nem a adopção de menores. É uma discriminação em relação às pessoas singulares? Sem dúvida, mas é legítima, como justa é a interdição da adopção para uniões não equiparáveis à família natural, que é a união de um homem e uma mulher.

 

Os defensores do pretenso direito à adopção esquecem que não há, nem pode haver, um direito a ter filhos, naturais ou adoptivos. Não o têm os casais naturais – quanto muito, uma mera expectativa – nem as uniões de pessoas do mesmo sexo e, se aqueles podem adoptar e estes não devem faze-lo, é porque o Estado deve facultar ao menor órfão, ou filho de pais ausentes ou incapacitados, um pai e uma mãe, ou seja, uma família natural. Só na impossibilidade de adopção, dever-se-ia entregar a criança sem pais a uma instituição social que, como a união de duas pessoas do mesmo sexo, também não é, em sentido próprio, uma família.

 

Um homem singular pode ser um bom pai, como uma única mulher pode ser uma boa mãe e, por isso, é razoável que um só indivíduo possa adoptar. Mas dois homens ou duas mulheres, não só não são melhores pais ou mães – na realidade, só um deles poderá ser, verdadeiramente, pai ou mãe – como, em caso algum, podem ser pai e mãe, o que só poderá ocorrer se forem, respectivamente, homem e mulher.

 

Por outro lado, se se entende que duas pessoas do mesmo sexo podem ser dois bons «pais» ou «mães», por que não permitir que três ou mais indivíduos do mesmo sexo, possam adoptar?! Afinal de contas, a exigência da heterossexualidade do casal é tão natural quanto a sua composição dual: se duas pessoas, do mesmo sexo, podem ser casal e família, porque não três, quatro ou cinco?! A obrigação legal de o casal serem só dois não será também preconceituosa?!

 

De facto é e, nisto, os defensores da co-adopção têm toda a razão. É um preconceito, como preconceituosa é também a essência heterossexual do casal. É um preconceito porque é uma realidade anterior a qualquer racionalização do amor, da família ou da geração: a natureza heterossexual da união fecunda não decorre de nenhuma ideologia, cultura ou religião, mas é uma realidade originária e natural e, apenas neste sentido, é um pré-conceito. É uma realidade aliás universal, porque 97% das uniões estáveis são constituídas, em todo o mundo, por pessoas de diferente sexo e 100% dos casais naturalmente fecundos são heterossexuais. É por isto que o casamento é matrimónio: a união que faz da mulher mãe, ou mater, em latim, porque, quando se exclui a geração, não há verdadeiro casamento, nem família.

 

A nova lei foi saudada como um avanço civilizacional. Mas, se assim é, por que razão os deputados a aprovaram, na generalidade, de forma tão apressada e sigilosa? Se são cientes da sua transcendência, não seria lógico que exigissem uma maioria qualificada, como se requer para as reformas constitucionais? Será que temem o veredicto popular? Será que sabem que a grande maioria das pessoas não concorda com a nova lei?

 

Uma grande vitória para os direitos humanos? Que uma criança tenha, legalmente, dois «pais» ou duas «mães» é tudo menos humano, porque o que é próprio da natureza humana é ser-se filho de um só pai e de uma só mãe. É desumano que o filho, privado do seu pai, ou da sua mãe, veja esse seu ascendente substituído pelo parceiro do outro progenitor. A nova lei, portanto, não consagra nenhum novo direito humano, mas talvez, por desgraça, o primeiro pseudo-direito desumano.

 

Fonte: ionline

Qua | 15.01.14

Morreu um homem bom

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Tinha 87 anos e era uma das figuras mais queridas e carismáticas da cidade de Paredes. Um cavalheiro sempre de sorriso no rosto. António Cardoso foi um dos fundadores da Caixa de Crédito Agrícola em Paredes, instituição de cuja Assembleia geral foi presidente. Pertenceu também aos corpos sociais da Adega Cooperativa de Paredes e fundou e dirigiu, durante 50 anos, uma associação de lavradores da Madalena e Besteiros. Foi também um dos fundadores do PSD em Paredes, de cuja concelhia era até hoje o militante número um. Foi o primeiro presidente da Assembleia Municipal de Paredes. Na política, chegou ainda a ocupar um lugar de vereador na oposição, mas foi novamente no associativismo que viria a destacar-se. Pertenceu à direcção dos Bombeiros de Paredes durante 12 anos, alguns dos quais como presidente, e era, há 25 anos, a alma do Emaús, obra de apoio ao deficiente mental.

 

Seg | 13.01.14

Qual a diferença entre oferecer electrodomésticos ou carros?

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Já pediram a vossa factura? Não se esqueçam, pois o Estado prepara-se para oferecer os primeiros automóveis já em Março. O consumidor pede a factura e depois as Finanças fazem um sorteio tipo Totoloto e oferecem-lhe um carrito. Paulo Núncio garante que o carro é a estrear e sem penhoras.

 

Não vos parece estranho que o Estado use connosco a mesma técnica que os pais usam com os filhos pequenitos para conseguirem que não façam asneiras? “Se pedirem a factura e não fugirem aos impostos dou-vos um carrinho.”

 

O Major Valentim Loureiro oferecia electrodomésticos em troca de votos. O Estado oferece carros em troca de dinheiro. Volta Major, estás perdoado.

 

Dom | 12.01.14

Observar: Depois do pôr do sol

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Fiz  esta foto poucos segundos depois do pôr-do-sol do passado sábado, junto  ao Castelo do Queijo. Para a ilustrar, escolhi um pequeno trecho do poema de Fernando pessoa, O Mistério das Cousas:
“Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.”

 

Sab | 11.01.14

Este homem é do norte carago!

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Esta notícia [Concurso para aquisição de serviços jurídicos: Câmara escolhe proposta mais cara] fez-me lembrar a “Herman Enciclopédia”, um programa de humor que passou há uns anos na RTP. Havia um sketch em que se reuniam numa cave uns nortenhos orientados pelo Eng. Passos de Ferreira, cuja ocupação era maquinar contra Lisboa. Quando foi para eleger o líder, o Engenheiro escreveu as regras: “Só poderá ser presidente do movimento uma pessoa do sexo masculino, que seja engenheiro e que o último nome seja Ferreira”. E concluía: “Se vós conheceres alguém nessas condições…” Neste concurso só faltou dizer que o lugar só poderia ser ocupado por alguém cujo último nome fosse Bexiga.

Sex | 10.01.14

A liberdade que nos falta

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O dinheiro, ou a falta dele, condiciona a nossa liberdade. Isto acontece quer estejamos a falar de um órgão de comunicação social [e não me venham com a conversa da treta da independência jornalística] ou de um país.

 

Vem isto a propósito da venda dos seguros do banco do Estado a uma empresa chinesa. Custa-me entender que algumas empresas do Estado, ou até a concessão de água e saneamento da minha terra, estejam na mão de um país governado sob um regime prepotente, tirânico e ditatorial, que não respeita os mais elementares direitos humanos.

 

A escassez de dinheiro condiciona a nossa liberdade. Não temos autonomia para recusar a oferta dos chineses, porque precisamos muito daquele dinheiro. Da mesma forma que um jornal regional evita arranjar confusão com uma autarquia que lhe vai dando algumas receitas, jamais o Estado português poderá denunciar ou falar dos atropelos constantes aos Direitos Humanos que acontecem na China.

 

Mesmo parecendo que temos liberdade para circular à vontade, andamos todos muito bem agrilhoados.

Qui | 09.01.14

Os sobrinhos de Deus

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Por: Gonçalo Portocarrero de Almada*

 

Há católicos tão bem, tão bem, tão bem, que tratam Deus por tio. De facto, chamá-Lo pai seria ficar automaticamente irmã, ou irmão, dessa gentinha pé-descalça e malcheirosa que vai à Cova da Iria de xaile e garrafão. Tratá-Lo por Senhor seria reconhecer-se de uma condição servil, que está muito bem para as criadas e para os chauffeurs, mas que não é compatível com quem é, há várias gerações, gente de algo.

 

Os sobrinhos de Deus gostam muito de Jesus, porque Ele é superfantástico: andou sobre o mar e fez montes de coisas giríssimas. Gostam tanto d’Ele que até Lhe perdoam o ter sido carpinteiro, pormenor de gosto duvidoso que têm a caridade de omitir, sempre que, ao chá, falam d’Ele. Também têm muita devoção ao Espírito Santo: à família do banco, claro, pois conhecem-na toda da Quinta da Marinha e de um ror de sítios muito in, que tudo o que é gente frequenta.

 

Alguns foram a Fátima a pé e acharam o máximo. Levaram uns ténis de marca, roupa desportiva q. b. e um padre da moda. Rezaram imenso, tipo um terço, sei lá. O resto do tempo foi à conversa, sobretudo a cortar na casaca de uns quantos novos-ricos, um bocado beatos, que também se integraram na peregrinação (já agora, aqui para nós, mais por fervor aos sobrinhos de Deus do que a Nossa Senhora, mas note-se que isto não é ser má-língua, mas a pura verdade, à séria).

 

Têm imenso gosto e casas estupendas. Quando olham para um crucifixo em pau-santo, com imagem de marfim e incrustações de prata, são capazes de reconhecer o estilo, provavelmente indo-europeu, identificar a punção, pela certa de algum antigo joalheiro da Coroa, e a data, até porque, geralmente, é igualzinho a um lá de casa, ou muito parecido ao da capela da quinta. Só não vêem o Cristo, nem a coroa de espinhos, nem as chagas, que são coisas de menos importância.

 

Detestam essas modernices do abraço da paz ou da Igreja dos pobres, mas não é que tenham nada contra os pobres, apenas receio de doenças contagiosas.

 

Também não são muito fãs do senhor prior, nem do Papa Francisco, simplórios de mais para os seus gostos sofisticados. Mas derretem-se quando se cruzam, nalgum cocktail, exposição ou concerto na Gulbenkian, ou em São Carlos, com alguém que os fascine pelo seu glamour, pela sua cultura, pela sua inteligência ou poder porque, na realidade, o principal santo da sua devoção é o príncipe deste mundo.

 

Uma só coisa aflige os sobrinhos de Deus: que o céu, onde já têm lugar reservado, esteja mesmo, como se diz no sermão das bem-aventuranças, cheio de maltrapilhos.

 

1) Qualquer relação com a realidade não é coincidência, mas um azar dos diabos.

 

*Licenciado em Direito e doutorado em Filosofia. Vice-Presidente da Confederação Nacional das Associações de Família (CNAF)

Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/os-sobrinhos-de-deus-1618710

 

Qui | 09.01.14

Lutar faz parte do mérito

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À semelhança do que fazemos todos os anos, na primeira edição do ano atribuímos os “prémios” do VERDADEIRO OLHAR. Na verdade, distinguimos aqueles que, no nosso entender e nas mais variadas actividades, se distinguiram durante o ano anterior e fizeram parte das nossas notícias. A selecção é feita através da análise de todas as 52 edições do ano e sob proposta de cada um dos elementos da redacção. Se não houver consenso na escolha, procede-se a uma votação. Mas quase sempre existe unanimidade.

 

Ora, depois de publicada a edição da semana passada, em que revelámos os eleitos de 2013, alguns leitores mostraram-se surpreendidos com a escolha dos Móveis Rodrigues para a categoria de “Empresa do Ano”. Muitos pensaram que se tratava de um equívoco e ligaram ou escreveram a darem-nos “a novidade”: essa empresa atravessa dificuldades e está em fase de recuperação. Nada que não soubéssemos.

 

Fará sentido eleger como “Empresa do Ano” uma firma que está a atravessar graves dificuldades financeiras? A nossa resposta é clara: sim, faz todo o sentido. O ano de 2013 foi um ano difícil para muitas empresas da região. Foram inúmeras as que não sobreviveram ao temporal financeiro e económico que devastou o nosso país, vendo-se obrigadas a fechar portas. No entanto, algumas, mesmo fustigadas por esse temporal, tentaram agarrar-se a tudo o que puderam para sobreviver. Os gerentes da Móveis Rodrigues, perante as arduidades com que depararam, podiam ter feito o mais fácil, que é fechar, deitando por terra um trabalho de mais de 30 anos. Porém, decidiram utilizar a sua experiência e conhecimento para enfrentar as dificuldades. Por conseguinte, a empresa de Rebordosa, Paredes, produziu milhares de peças de mobiliário para equipar os 120 quartos dos dois novos barcos da Douro Azul, assim como os aposentos da tripulação e todos os espaços comuns, de lazer e alimentação (restaurante, piscina, ginásio e spa). Não sabemos – porque não nos diz respeito – se isto foi suficiente para superar os problemas financeiros, mas sabemos que lutaram para os conseguirem ultrapassar.

 

Nem sempre quem luta consegue alcançar o sucesso, mas o facto de lutar é uma parte de um caminho louvável. A escolha da Móveis Rodrigues para a “Empresa do Ano de 2013” não foi um engano, foi o reconhecimento de uma empresa que, à semelhança de muitas outras nesta região, batalham por dias melhores.

Qua | 08.01.14

E se fosse o Relvas?

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A morte de Eusébio fez ressaltar duas reacções que encheram as redes sociais, mas passaram ao lado da imprensa nacional: as declarações de Soares [que me dispenso de repetir] e a história de José Sócrates, onde relata a sua ida para a escola naquele célebre sábado de 23 de Julho de 1966. Para isto ser notícia nos telejornais seria necessário que estas declarações tivessem sido feitas por um outro tipo de político. E se fosse o Relvas? Ui! Abria os telejornais.

Ter | 07.01.14

A informação cada vez mais superficial e menos rigorosa

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Nos Cadernos de Pickwick, Charles Dickens conta uma velha história sobre um fidalgo irlandês que, quando lhe perguntaram se sabia tocar rabeca, respondeu que estava convencido de que sim, mas não tinha bem a certeza porque nunca tinha experimentado.

 

Vem isto a propósito do cada vez maior número de jornalistas polivalentes: pessoas que sabem muito pouco sobre tudo. É impressionante o número de jornalistas que falam sobre Direito ou de macroeconomia sem fazerem a mínima ideia do que dizem, ou melhor, dizendo coisas escandalosamente erradas. Muitas das vezes, toda a notícia assenta no que um ou outro político vai dizendo à sua medida.

 

Na verdade, a Comunicação Social tem pouco dinheiro, o que torna quase impossível contratar jornalistas especializados. Por outro lado, como paga pouco, os jornalistas não conseguem especializar-se em assunto algum.

 

Resultado: temos cada vez mais jornalistas que falam de tudo em geral, sem saberem de nada em concreto. Tudo isto está a conduzir-nos a uma informação cada vez mais superficial e pouco rigorosa.

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