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Dom | 25.07.10

Um dia na vida de Manuel Barbosa Leão: Coleccionador de garrafas em miniatura

fcrocha

Esta madrugada, um incêndio na Casa do Fundo, em Parada de Todeia, Paredes, fez duas vítimas mortais: Fausto e Manuel Leão. Conhecia os dois desde criança.

 

A casa que foi construída no início do Sec. XVII e pertenceu ao bispo D. António Barbosa Leão. O mobiliário e a maioria dos livros da biblioteca eram da data da fundação. Esta noite, o fogo destruiu tudo.

 

Deixo-vos um texto publicado no Verdadeiro Olhar sobre a vida do coleccionar e proprietário da casa, Manuel Barbosa Leão.

 

  

Um dia na vida de Manuel Barbosa Leão: Coleccionador de garrafas em miniatura

 

Um dos principais impulsionadores do coleccionismo em Portugal é natural de Paredes. Manuel Barbosa Leão, 68 anos, nasceu e reside em Parada de Todeia e ainda hoje figura entre os maiores coleccionadores nacionais de garrafas em miniatura. Possui mais de três mil exemplares, segundo registos de 2003, altura em que a doença o atirou para a cama do hospital e quase o venceu. De então para cá, nunca mais acertou as contas da colecção, e limita as suas participações aos encontros a norte.

 

 Foto: Verdadeiro Olhar

“Leão do Norte”

 

Longe vão os tempos dos primeiros encontros, na altura conhecidos por Feira de Trocas. O primeiro data de 1980 e realizou-se a título experimental na Praça de Camões, em Lisboa, por iniciativa da Rádio Renascença (RR). Manuel Barbosa Leão foi um dos participantes, e acabou mesmo por ser entrevistado pelos repórteres de rua da RR, na altura Fernando Almeida e Carneiro Gomes, uma situação que viria a repetir-se ao longo dos anos. Artur Agostinho – precisa sem hesitar – era o locutor em estúdio a quem o paredense terá manifestado discordância pelo nome da iniciativa. “Feira de Trocas soava-me a comércio, quando na realidade o que prevalecia eram as trocas”, recordou, admitindo ter conseguido tudo aquilo por que se bateu.

 

“A iniciativa passou a chamar-se “Encontro de Coleccionadores” e, mais tarde, “Encontro de Coleccionadores Nacionais”; consegui alargar os locais da sua realização, então limitados a Lisboa e ao Porto, e promovi, numa edição descentralizada em Rio Maior, o primeiro Congresso de coleccionadores”. Esteve sempre na linha da frente e liderou diversas iniciativas, como encontros, homenagens ou confraternizações, com a vantagem de todos concordarem: “Em Lisboa conheciam-me por “Leão do Norte” e a verdade é que o que dissesse era lei”.

 

Mais de 100 encontros

 

Outros tempos. Manuel Barbosa Leão contabiliza mais de uma centena de participações em encontros por todo o país, mantendo o contacto com parte dos primeiros coleccionadores. E a todos conhece, até um bizarro coleccionador de penicos, mas desacelerou nestas lides.

 

Limita as presenças aos encontros a norte, que frequenta “de vez em quando”, sempre que arranja alguém para ficar com a irmã e o cunhado com quem vive. “A idade e a saúde já não ajudam; a minha colecção é feita mais devagarinho”, precisou.

 

Assim se explica o interregno com cerca de cinco anos no registo das garrafas. Diz faltar-lhe disposição para acertar as contas, que à data ultrapassavam os três mil exemplares, e paciência para as anotações todas relativas às suas características. Isso inclui indicações precisas sobre a altura, o diâmetro, o rótulo e seus dizeres. Ou a rolha.

 

Influência da afilhada

 

Hoje admite que nunca pensou ser coleccionador, apesar de “sempre” ter revelado “simpatia” por garrafas pequenas. Recebeu as primeiras com sete ou oito anos, de uns amigos dos pais da Real Vinícola, mas só lhe tomou o gosto na adolescência. Via e comprava. Adquiriu muitos exemplares em Espanha, sobretudo no Norte, que conheceu de lés a lés, mas o “grande impulso” foi dado pela afilhada, que insistentemente lhe pedia para escrever ao programa de coleccionismo que a RR tinha criado. À terceira foi de vez, e a partir daí o gerente comercial e decorador na Casa Damaneto, no Porto, começou a receber cartas umas atrás das outras.

 

Começou a trocar garrafas, que juntava às que lhe ofereciam e ia adquirindo. “Algumas são únicas”, sobretudo as que conseguia arranjar nas tascas. No início ainda anotou o dinheiro que investia e o preço das garrafas, mas cedo se deixou disso, apressou-se a explicar, antecipando a curiosidade do Verdadeiro Olhar. “Sempre lhe digo que cheguei a comprar garrafas por três contos, mas também já recusei ofertas de centenas de contos por algumas”, referiu.

 

Esclareceu ainda que a colecção ficará um dia à guarda dos sobrinhos no caso de estes pretenderem dar-lhe continuidade; outra qualquer intenção implicará a sua doação, conforme consta em testamento.

 

 

Descendência real

 

É o mais novo de sete irmãos e o actual proprietário da Casa do Fundo, outrora pertencente ao seu tio-avô e bispo D. António Barbosa Leão. A propriedade data de 1625 e só por duas vezes foi objecto de reformas: em 1737 e, mais recentemente, em 1906. O mobiliário é do tempo da sua fundação, tal como alguns dos livros depositados na biblioteca da casa. Manuel Barbosa Leão estudou e foi educado no seminário Diocesano do Porto, tendo sido por duas vezes premiado como melhor aluno. Segundo a árvore genealógica da sua família descende da família real portuguesa, através da Casa dos Duques de Bragança, fundada em Vila Viçosa por D. João I, e de D. Nuno Álvares Pereira, conhecido como Santo Condestável.

 

 

Estórias com história

 

* Um certo dia levou uma garrafa às Caves Ferreirinha para determinar a sua idade. Quando lá regressou para levantar o exemplar, foi informado que o mesmo teria mais de 80 anos. E nada mais. Isto é: foi-lhe também apresentada uma proposta de compra a rondar os 1500 euros, motivada pelo facto de a Companhia não ter guardado um exemplar da garrafa que uns anos antes lançara no mercado. Manuel Barbosa Leão assegura que esta situação se repetiu com todas as empresas produtoras.

 

*Noutra ocasião, lançou um conjunto restrito de garrafas, limitadas a uma série de 200, destinadas a trocas ou ofertas. Para o efeito utilizou o vinho da sua propriedade, rótulos mandados fazer na gráfica e as garrafas da Borges & Irmão, obtida a devida autorização da empresa para a sua utilização no mercado.

 

 

Impressões

 

Nome: Manuel Barbosa Leão

 

Idade: 68 anos (01/11/1941)

 

Naturalidade: Parada de Todeia, Paredes

 

Residência: Parada de Todeia, Paredes

 

Estado Civil: Solteiro