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alinhamentos

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Qua | 30.12.15

Hipocondríacos

fcrocha

Chegamos ao final deste ano em estado de alarme geral. Os noticiários televisivos, que cada vez duram mais tempo, são dedicados na sua quase totalidade a notícias catastróficas. De repente, parece que o nosso país e o mundo está em estado de sítio e não há nada de bom que nos possa acontecer. Vivemos na cultura do medo, que nos agita por tudo e por nada. Por exemplo, agora mesmo enquanto escrevo este texto, está a ser anunciado que estão dois distritos em alerta amarelo, por causa do frio. No fim do mês de Dezembro as televisões gastam tempo a alertar-nos para o frio? Mas não estamos no Inverno? No Inverno não faz frio? Estranho era se tivéssemos uma vaga de calor. Bem, mas se não é o frio é um banco que vai falir, um sindicato que vai fazer mais outra greve ou uma peste qualquer num animal de consumo doméstico. Nos últimos anos já tivemos todo o tipo de epidemias, desde as vacas que eram loucas, passando pelos suínos até às aves que apanharam uma constipação. Digo-vos uma coisa, chegar à época de Natal e não terem inventado uma doença para o bacalhau é muita sorte!

Oxalá que o ano que amanhã começa seja o ano em que ignoramos o estado permanente de alarmismo, o ano que possuamos a determinação necessária para fazermos uma vida diferente, uma vida de esperança.

Desejo-lhe um feliz ano de 2016.

Qua | 23.12.15

Misericórdia

fcrocha

Escreveu São Lucas que, quando José e Maria chegaram a Belém, prestes a acontecer o primeiro Natal, “não havia lugar para eles na hospedaria”. Por isso, como a porta da hospedaria estava fechada, São José teve que levar a Maria para uma gruta. Uma gruta que estava aberta porque não tinha porta. Por não ter porta, os pastores foram os primeiros a ir adorar o Menino. Ou seja, na gruta que não tinha porta havia um Presépio que continha a Porta para Deus.

Confesso que não sei se a razão do Menino ter nascido numa gruta foi o facto de ter ou não ter porta. Mas o certo é que esta minha dedução ajuda-me a introduzir o assunto de que lhe quero falar: o Ano Santo da Misericórdia e as Portas Santas.

Na semana passada, o Papa Francisco falava deste ano Jubilar dizendo que “a misericórdia e o perdão não podem ser meras palavras, mas têm de realizar-se na vida diária: amar e perdoar são o sinal concreto e visível de que a fé transformou os nossos corações e nos permite exprimir em nós a própria vida de Deus”. Por isso, afirma que “assim também a nossa porta deve estar sempre escancarada, para não excluir ninguém”.

Uma das marcas do Jubileu Extraordinário da Misericórdia é a existência de “Portas de Misericórdia” em cada diocese e ainda nos principais santuários do mundo. Estas portas foram estabelecidas para haver locais onde os fiéis, atravessando-as, “possam ser abraçados pela misericórdia de Deus e se comprometam a serem misericordiosos com os outros, como o Pai o é connosco”, como diz o Santo Padre na bula com que anunciou o jubileu.

A passagem pela porta da misericórdia concede aos fiéis uma indulgência plenária, mas não basta atravessar a estrutura. Como sempre acontece com as indulgências, é necessário o fiel estar confessado, comungar e rezar pelas intenções do Santo Padre. Estes preceitos podem, se for preciso, ser cumpridos nos dias depois da passagem pela porta santa.

Na nossa região temos cinco “Portas Santas”: Em Lousada, a Igreja do Senhor dos Aflitos; em Paços de Ferreira, a Igreja Matriz; em Paredes, a Igreja Matriz; em Penafiel, a Igreja do Calvário; e em Valongo, o Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho, Mão Poderosa e Santa Rita.

Como pedia o Papa Francisco, “que o Ano Santo nos ensine, antes de tudo, que a misericórdia é o primeiro e o mais verdadeiro remédio para o Homem, do qual todos necessitam urgentemente. Quanto é capaz de curar uma carícia misericordiosa! Esta flui de modo contínuo e superabundante de Deus, mas devemos também nos tornar capazes de doá-la reciprocamente, para que cada um possa viver em plenitude a sua humanidade”.

Desejo-lhe um Santo Natal!

Qui | 17.12.15

Jogo de cintura

fcrocha

A pacense Glória Araújo foi deputada do Partido Socialista durante dez anos e por diversas vezes foi notícia. Agora, depois de deixar o cargo, volta a ser notícia através de uma entrevista que publicamos na edição desta semana. Glória Araújo fala publicamente daquilo que há muito se vai falando nos bastidores da política pacense: a vitória de Humberto Brito nas autárquicas não corresponde à vitória do PS.

Nas últimas eleições legislativas, os resultados no concelho de Paços de Ferreira foram desastrosos para o PS. Nas primeiras eleições depois da vitória socialista nas autárquicas, foi naquele concelho que o PS conseguiu o pior resultado do distrito, revelando que, ao contrário do que aconteceu na campanha de Humberto Brito, a estrutura local não conseguiu mobilizar nem retirar dividendos políticos do facto de ser poder. Esta é também a conclusão da ex-deputada, que se mostra preocupada com o estado a que chegou o partido e não afasta uma eventual candidatura à Comissão Política Concelhia. Caso decida levar o seu mandato até ao fim, Paulo Sérgio terá uma oposição interna atenta e já declarada.

Se os fracos resultados eleitorais eram um dos assuntos-tabu até agora dentro do PS concelhio, há outro que cada vez se torna mais visível: o ambiente de crispação crescente entre o presidente da autarquia, Humberto Brito, e o presidente da Comissão Política, Paulo Sérgio Barbosa, que é também vice-presidente da autarquia.

É verdade que as relações entre os dois nunca foram as melhores – basta recordarmo-nos do processo que levou à escolha de Humberto Brito como candidato pelo PS – mas, desde então, foram-se degradando. São conhecidos vários episódios de desautorização de um ao outro na gestão municipal, assim como o desagrado de Humberto Brito quando o vice-presidente contratou alguns militantes socialistas para funções municipais.

Glória Araújo é política com muita experiência e habituada a “jogos de cintura”. Por isso, ao elogiar Humberto Brito e o seu trabalho à frente da autarquia, a ex-deputada tenta pôr travão à eventual intenção de Humberto Brito não se recandidatar, pelo menos numa lista que inclua Paulo Sérgio Barbosa.

Qui | 10.12.15

O seu a seu nome

fcrocha

A Câmara Municipal de Paredes tenciona homenagear Jorge Malheiro, que foi Presidente da Câmara pelo CDS-PP durante 17 anos (19 de Agosto de 1977 a 30 de Dezembro de 1993).

A minha vida cruzou-se por duas vezes com a de Jorge Malheiro: a primeira em 1992, quando trabalhei na elaboração do primeiro Plano Director Municipal de Paredes, e a segunda em 2004, por motivos políticos. Dele guardo a imagem de um homem coerente, firme no que pensa, diz e faz. Jorge Malheiro é um homem de trato simples, mas com modos cavalheirescos.

Quando assumiu a presidência da Câmara Municipal, já vivia na Quinta D’Além, onde continua a residir. Não é conhecido por ter enriquecido durante os seus 17 anos de autarca, nem tão-pouco foi alguma vez acusado de negócios menos sérios. Foi sempre um adepto fervoroso do União Sport Clube de Paredes, mas diz-se que fazia questão de ir ver os jogos fora no seu próprio carro. Se estamos todos sujeitos a que sobre nós se diga tudo, é de justiça que se diga que, durante 17 anos, serviu sem nunca se ter servido.

No seu último mandato, conseguiu que fosse construída uma ligação da cidade de Paredes à Auto-estrada n.º 4. Nessa altura, construiu-se uma rotunda para servir esse acesso e, por unanimidade, os vereadores decidiram atribuir o seu nome a essa rotunda. A proposta foi votada na Assembleia Municipal e o resultado foi o mesmo: os representantes dos partidos votaram por unanimidade que a rotunda à entrada da cidade haveria de chamar-se Jorge Malheiro.

Pouco tempo depois, Jorge Malheiro perdeu as eleições para o PSD e o novo Presidente da Câmara, Granja da Fonseca, na primeira oportunidade, tratou de mudar o nome à rotunda, renomeando-a “Rotunda 25 de Abril”. Na altura, à excepção dos eleitos pelo PSD, ninguém compreendeu a atitude de Granja da Fonseca.

Entretanto, passaram-se mais de 20 anos, o clima de crispação foi-se aliviando e, hoje em dia, provavelmente Granja da Fonseca não teria tido a mesma atitude. Até porque o mesmo Granja da Fonseca aceitou ter ruas e avenidas no concelho com o seu próprio nome.

Por isso, se a Câmara Municipal de Paredes quer mesmo homenagear Jorge Malheiro, a melhor forma de o fazer seria repor o nome original da rotunda. Certamente que o executivo, à semelhança do que aconteceu em 1993, voltaria a votar por unanimidade tal decisão.

Qui | 03.12.15

Os exames são todos maus?

fcrocha

Parecia que o novo Ministro da Educação ainda mal sabia o caminho para o seu novo gabinete e já estava tomada a primeira medida que envolvia o seu ministério: acabar com os exames nacionais no 4.º ano de escolaridade. E tudo isso se resolveu sem debate público nem qualquer estudo que alicerçasse uma tal decisão e sem ouvirmos, sequer, a opinião do Ministro sobre o assunto. Simplesmente, acabou-se com os exames, para fazer a vontade ao PCP e ao BE. A Fenprof exultou de alegria e não houve mais comentários.

Confesso que me preocupa que no meu país se tomem decisões em matérias estruturais do sistema educativo com esta ligeireza. Não tenho informações suficientes para concluir se os exames do 4.º ano do 1.º ciclo são bons ou maus para o sistema educativo. Acredito até que existam fortes argumentos tanto contra como a favor da manutenção dos exames. Mas uma coisa é acabar com os exames que têm influência na nota final dos alunos e outra é deixar de haver qualquer tipo de avaliação no 1.º ciclo, uma vez que a medida aprovada no Parlamento elimina o exame final e não repõe as provas de aferição (que não contavam para a nota final).

Não é possível aplicar políticas públicas de educação sem haver um controlo dos resultados finais. E isso só é possível se existir avaliação. Importa recordar que é esse tipo avaliação que permite a Portugal ser avaliado internacionalmente pelo PISA da OCDE.

Não há sucesso escolar sem avaliação, conte ou não para a nota final. A avaliação é um instrumento que permite perceber as dificuldades de aprendizagem dos alunos e corrigi-las, ajuda os professores a darem um melhor apoio aos alunos e, acima de tudo, permite ir adaptando as políticas de educação à realidade do país. Ao abdicar da avaliação, o PS está a ceder de forma perigosa ao PCP, ao BE e, acima de tudo, à Fenprof, que, infelizmente, já demonstrou centenas de vezes ser o seu interesse maior a classe profissional que representa, e não os alunos. Resta esperar, portanto, que o novo Ministro da Educação consiga pôr travão a estes disparates parlamentares.