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alinhamentos

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Qui | 26.11.15

À mulher de César não lhe basta ser séria…

fcrocha

Se há local onde a política mais se assemelha aos fenómenos do Entroncamento, esse local é Paredes. Em pouco mais de uma semana, aconteceram vários episódios caricatos. O primeiro começou com um tiro no pé do vereador socialista Alexandre Almeida. O PS e a CDU propuseram uma auditoria às contas da Junta de Freguesia de Cete, que é liderada pelo PSD. Até aqui, não há nada de anormal: a auditoria é um instrumento útil e que deve ser usado, principalmente depois de se saber que essa mesma Junta de Freguesia, entre outras irregularidades, tinha emitido vários cheques sem provisão. Isso é que não é normal. O problema é que a empresa escolhida para fazer a auditoria é propriedade do referido vereador do PS. É mais ao menos como se o Benfica fosse jogar com o Sporting e o árbitro fosse o Jorge Jesus. Não há que duvidar da seriedade de Alexandre Almeida enquanto auditor, mas não parece correcto ficar associado a uma operação desta natureza. Em política, estes erros pagam-se caro.

Defender o concelho ou a honra? No sábado passado, realizou-se uma sessão da Assembleia Municipal de Paredes. O assunto mais importante foi a discussão e aprovação do Orçamento para 2016. Quem já assistiu a estas reuniões presididas por Granja da Fonseca sabe que têm tudo menos a dignidade que lhes é exigida. A última não foi excepção. No período de antes da ordem do dia, os presidentes de junta eleitos pelo PSD inscreveram-se todos para fazer a defesa do presidente da Junta de Cete e aproveitar para atacar o vereador Alexandre Almeida. No entanto, alguns deles excederam-se nos termos em que o fizeram e acabaram por o ofender. É certo que os vereadores só têm direito à palavra se o Presidente da Câmara autorizar, mas quando se trata da defesa da honra, como foi o caso, cabe ao Presidente da Assembleia Municipal permitir que o ofendido se defenda. Granja da Fonseca não autorizou e os vereadores e a bancada do PS abandonaram a sessão. Sendo compreensível a indignação dos socialistas, foi esquecido, no entanto, o que deveria ter sido o mais importante da reunião. O que acabou por acontecer foi que, pela primeira vez, o Orçamento Municipal foi aprovado sem um único voto contra. Reagir a quente tem destas coisas…

Provar do próprio veneno. Há poucos anos, Elias Barros e Joaquim Neves compraram dois jornais locais e usaram-nos para fazer oposição a Celso Ferreira. Muitas foram as vezes em que os conteúdos aí produzidos se aproximaram mais de uma espécie de terrorismo jornalístico do que de uma leal oposição política. Entretanto, um desses jornais foi encerrado e o outro ficou apenas nas mãos de Joaquim Neves. O mesmo Joaquim Neves, agora, anunciou que será candidato à liderança do PSD-Paredes. Por seu lado, o PS entende que todas as notícias actuais que lhe são menos favoráveis são fruto daquela violenta estratégia editorial usada no passado. Na segunda-feira, durante a conferência de imprensa do PS, Elias Barros, agora presidente da Junta de Freguesia de Rebordosa, disse o seguinte: “Joaquim Neves tem usado o [seu] jornal para atacar-me a mim e ao Alexandre Almeida. Sinto-me perseguido! É vergonhoso apoderar-se de um jornal para se promover!” É verdade: é mesmo vergonhoso usar um jornal para se autopromover ou para mover perseguição a alguém. Mas não passou a ser vergonhoso agora. É-o desde sempre, até no tempo em que Elias Barros era co-proprietário dos dois jornais.

Sex | 20.11.15

Cristianismo de ciência e de acolhimento

fcrocha

Tenho por hábito colocar numa pasta os textos que não tenho tempo de ler mas que, por me parecerem interessantes, guardo para ler mais tarde. Um desses textos, guardado desde Dezembro do ano passado, foi uma entrevista ao vencedor do Prémio Pessoa, Henrique Leitão, em que explica como é que a ciência moderna progrediu na Europa.

Henrique Leitão é um físico teórico de formação que se virou para as humanidades para perceber melhor a História da Ciência. Nessa entrevista, diz que os estudos que desenvolveu lhe permitiram chegar à conclusão de que foi o Cristianismo que forneceu a base para o desenvolvimento da ciência moderna. “Se não houvesse uma base cristã, nunca teria havido, propriamente, ciência moderna, porque se hesitava sobre aspectos que são absolutamente centrais para haver ciência”, afirma, explicando: “Para se poder fazer ciência, é preciso ter um conjunto muito específico de ideias sobre a natureza. Ora, sucede que o Cristianismo fornece, precisamente, essas ideias. O Cristianismo afirma que a natureza é boa, a natureza é racional e a natureza é contingente, o que quer dizer que é desta maneira, mas poderia ser de outra, e só se pode saber como é investigando.”

Henrique Leitão é doutorado em Física Teórica e orientou a sua investigação para a História das Ciências, sobretudo nos séculos XV, XVI e XVII. Coordenou a publicação das obras de Pedro Nunes e contribuiu para resolver um problema científico: o Método da Projecção de Mercator, feita pelo cartógrafo e matemático Gerhard Mercator, que conseguiu representar, pela primeira vez, o globo num plano.

O físico explica como a ciência moderna vingou na Europa: “Estas ideias – a da bondade do mundo natural, do mundo físico e do mundo biológico e da sua racionalidade – que são absolutamente cruciais para haver ciência, são disseminadas culturalmente pela Europa pelo Cristianismo”. E, assim, ao contrário do que aconteceu na China e no mundo árabe, onde a ciência era assunto de elites, na Europa todas as camadas da população tinham algum interesse na ciência.

Desta conclusão, tiro outra: agora que a Europa está a ser procurada por aqueles que tudo perderam em guerras nas suas terras, incluindo a possibilidade de lá viver, esperemos que a matriz cristã que ainda é perceptível na nossa Europa se mantenha à tona destes mares revoltos de guerras que julgávamos longínquas e de terrorismos que já cá estão e nos leve a acolher com solidariedade aqueles que buscam asilo, sem nos deixarmos manipular pelos que querem convencer-nos a confundi-los com terroristas.

Qua | 18.11.15

O problema deles agora também é nosso

fcrocha

Um homem foi ter com um amigo que vendia castanhas junto a um banco. Quando lá chegou pediu-lhe dez euros em prestados. O vendedor, que já conhecia a fama do amigo e que tinha a certeza de que este não pagava, disse-lhe: “Não te posso emprestar o dinheiro”. “Então porquê?”- perguntou o amigo. “É que para vender aqui à porta do banco fiz um acordo com eles. Nem eles vendem castanhas lá dentro, nem eu empresto dinheiro cá fora”.

 

Vem isto a propósito dos vários textos publicados e que criticam o acolhimento dos refugiados da Síria. Aquilo que a França viveu na noite do passado 13 é apenas um bocadinho do que a maioria daquelas pessoas passou todos os dias. É disto que eles fogem. Para se perceber porque é que tantos e tantos tentam entrar na Europa é preciso compreender o que se passa do outro lado. Até à noite da passada sexta-feira todos sabíamos, mas assobiávamos para o lado. Não era nada connosco. Oxalá consigamos resolver este problema que agora é nosso. Se isso acontecer, resolvemos com toda a certeza o problema dos refugiados.