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alinhamentos

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Qua | 23.09.15

A publicidade da pobreza

fcrocha

A Câmara Municipal de Paços de Ferreira anunciou que os munícipes que não pagarem a factura da recolha de lixo irão ter os seus nomes publicados no site oficial da Câmara Municipal e serão alvo de penhoras de bens. Segundo a autarquia, existem mais de três mil utentes que, no total, devem 300 mil euros. Sobre este assunto, gostaria de deixar umas breves notas:

 

A primeira nota: não deixa de ser irónico que uma entidade que deve mais de 10 milhões de euros à empresa que recolhe o lixo, a SUMA, mais de 100 milhões a outras entidades e que tem batalhado por conseguir um perdão dos juros da dívida queira agora avançar com acções executivas para tentar penhorar três mil munícipes que, no seu conjunto, devem menos de um por cento do total da dívida da autarquia;

 

A segunda nota: uma grande parte dos três mil utentes que não pagaram a taxa de recolha de lixo são famílias. Para uma melhor contextualização da situação, importa referir que o concelho de Paços de Ferreira tem uma das mais altas taxas de desemprego do país e que o salário médio da maioria da população não ultrapassa os 500 euros. Se a tudo isto acrescentarmos a grave situação económica que o país atravessou, é fácil compreender por que é que algumas famílias ficaram a dever: é natural que entre pagar a taxa da recolha do lixo e pagar a água, tenham optado por aquela que era essencial (ou entre pagar a taxa do lixo e comprar comida).

 

Terceira nota: as câmaras municipais não foram feitas para dar lucro, foram feitas para servir os munícipes. Se numa altura de aflição financeira generalizada em que muitas famílias vivem num estado de pobreza escondida é a própria Câmara Municipal a pôr a nu essa situação, expondo-a publicamente no seu site oficial, algo está muito errado.

 

Quarta nota: é certo que a oposição ao actual executivo municipal está moribunda. No entanto, com esta medida, Humberto Brito, sem nunca o ter vivido verdadeiramente, perde definitivamente o que ainda lhe restava do seu “estado de [pouca] graça”.

Seg | 21.09.15

Imaginem apenas...

fcrocha

Imaginem que um casal gay é apanhado a meio de um acto sexual, atrás de uma barraca numa festa organizada pelo PSD ou pelo CDS-PP. Imaginem ainda que esse casal gay foi agredido fisicamente e injuriado por alguns membros organizadores da festa afectos a um destes dois partidos. Agora, imagem que terminavam por escorraçar esse casal gay da festa. Estão a imaginar isto tudo? Então imaginem como seriam as primeiras páginas de alguns jornais e a abertura dos telejornais se tudo isto tivesse de facto acontecido. Como tudo isto sucedeu na Festa do Avante, a imprensa classifica isto apenas como um incidente irrelevante.

Qui | 17.09.15

O realismo das promessas.

fcrocha

As campanhas eleitorais são um tempo fértil para promessas. No entanto, com o passar dos anos, acredito sempre que a próxima campanha será mais realista e com menos promessas encantatórias. Eleição atrás de eleição, volto a enganar-me: a cada dia que passa há o anúncio de mais uma dádiva ou de um programa que vai colocar os portugueses entre os povos mais ricos da Europa.

 

Todos os dias, nos noticiários, assistimos ao mesmo discurso: eles tiram, nós vamos dar; nós vamos aumentar a reforma sem fazer falir a Segurança Social; nós vamos criar empregos, mesmo que isso dependa das empresas e não do Estado; nós vamos dar o que vos cortaram, mesmo que isso custe tanto como o esforço de dois anos de austeridade.

 

Quando alguém tem dúvidas, é tratado como um blasfemador e atacado de imediato como estando ao lado dos outros, mesmo que não se saiba quem. E Deus nos livre de lhes perguntarmos aonde vão arranjar dinheiro para dar, dar e voltar a dar: somos desmentidos na hora, o que perguntámos passa de pergunta a afirmação para poderem dizer que é completamente falso e, de caminho, nos apelidarem de reaccionários e de partidários do bota-abaixo.

 

Eu sei que a campanha eleitoral passa rapidamente e ninguém pára para reflectir sobre nada. Mas este discurso ilusório e, muitas vezes, irresponsável não contribui de modo algum para a participação dos cidadãos na vida política.

 

Há uns anos, houve um Primeiro-Ministro que ganhou as eleições criando um discurso optimista, prometendo tudo para todos. As pessoas gostaram dessa ilusão e votaram nele. Quando chegou ao final do seu mandato, as pessoas já não pensavam nas promessas: o que queriam era não perder o pouco que ainda lhes restava...

 

Qui | 10.09.15

IC35, 20 anos depois e Os inacabados de Valongo

fcrocha

IC35, 20 anos depois. Esta foi uma semana em que as decisões políticas trouxeram boas notícias para o concelho de Penafiel. Em Julho, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações anunciou a calendarização da construção do IC35, uma obra desejada pelos concelhos de Penafiel e de Castelo de Paiva e prometida pelos sucessivos governos há quase 20 anos. Por se tratar de ano de eleições, houve quem pensasse que o anúncio não passaria de mais uma acção de campanha eleitoral. O certo é que esta semana foi publicado, no “Diário da República”, o lançamento da obra. Também esta semana, o Governo assinou com a Câmara Municipal de Penafiel um protocolo para a construção do novo posto territorial da Guarda Nacional Republicana em Paço de Sousa. Tudo isto é mais relevante por se tratar de duas obras que estavam dadas como perdidas: o IC35 era uma construção em que já quase ninguém acreditava, o posto da GNR esteve na lista dos que seriam para abater pela Administração Interna.

 

Os inacabados de Valongo. Em Valongo, o PSD propôs a redução do IMI de forma a conseguir uma reabilitação urbana dos edifícios devolutos. Segundo os sociais-democratas, a redução do imposto é válida por três anos e pretende ser um sinal positivo para a população. Ora, Valongo é uma cidade relativamente recente. Se há sinal urbano pela qual é conhecida, não é certamente pelos edifícios devolutos. Admito que possam existir alguns, mas há mais edifícios inacabados e abandonados. Se o PSD tem interesse em reabilitar urbanisticamente o concelho, parece-me que deveria começar por propor uma solução para as dezenas de edifícios inacabados que, ironicamente, nasceram como cogumelos na mesma altura em que o PSD presidia aquela autarquia.