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alinhamentos

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Qua | 29.07.15

O jogo

fcrocha

No país o tempo é de eleições legislativas. No entanto, em Paredes, parece que o mesmo tempo é de eleições autárquicas. Ou melhor: no PSD de Paredes, o tempo parece ser de luta pela sucessão de Celso Ferreira.

 

O actual presidente da Câmara Municipal está no seu derradeiro mandato. Por isso, é natural que o seu partido vá meditando na sucessão. Só que o PSD sofre de um problema grave: sempre que há um comando forte, a sucessão é mais difícil. E, de facto, Celso Ferreira é um político com forte carisma e uma liderança possante, de tal forma que, entre os que o rodeiam, tornou-se difícil olhar para cada um deles como provável sucessor.

 

O mandato ainda vai a meio e a lista de potenciais candidatos já vai avançada, o que está a fazer estragos dentro do PSD. Senão, vejamos.

 

O sucessor natural seria o vereador Pedro Mendes. É o vice-presidente da Câmara Municipal e é, sem dúvida, o mais bem preparado politicamente. Todavia, sofre de forte oposição dentro do próprio partido e até dentro do seu executivo municipal, basta estar atento à relação entre este e o vereador Manuel Fernando Rocha. A popularidade não é o seu forte, o que forçaria o partido a um esforço adicional de forma a melhorar a voga do candidato.

 

O vereador Manuel Fernando Rocha também é visto por muitos como um potencial sucessor. Tem reputação de ser um vereador sério e trabalhador. Mas falta-lhe a ousadia para se impor no partido e no executivo municipal. O seu mandato foi muito na sombra de Celso Ferreira. Caso fosse o candidato, em termos de notoriedade, sairia atrás do candidato socialista.

 

Fora do executivo municipal, há mais quatro potenciais candidatos. Um deles é José Manuel Outeiro, o líder da bancada da assembleia municipal do PSD. Foi o número dois de Granja da Fonseca e foi responsável por várias iniciativas que marcaram o concelho de Paredes, como, por exemplo, a construção do Parque da Cidade. O facto da sua intervenção politica se reduzir à assembleia municipal faz com que, 12 anos depois, muitos não o conheçam. Contudo, parece-me que José Manuel Outeiro não estará disponível para novas andanças autárquicas.

 

Outro dos potenciais candidatos é Joaquim Neves. Foi vereador de Celso Ferreira e entregou os pelouros por afastamento com o próprio. De todos, será o que terá mais oposição dentro do próprio PSD. Os seus colegas de partido não se esquecerão com simplicidade do tempo em que foi vereador e colocou o seu partido em minoria no executivo, nem das dezenas de crónicas corrosivas que escreveu contra o actual executivo municipal. Por isso, antes de pensar em conquistar o concelho, Joaquim Neves terá o espinhoso trabalho de dominar o partido. Uma empreitada que não se prevê fácil.

 

Para este jogo autárquico há ainda duas mulheres a ter em conta. Conceição Ruão é uma delas. A deputada do PSD tem-se posto a jeito para ser a escolhida e Celso Ferreira tem-lhe dado algum palco. No entanto, a notoriedade da deputada irá pouco mais além da sua rua. É uma ilustre desconhecida no concelho e seria um alvo fácil de abater pelos socialistas: bastaria recordar algumas votações na Assembleia da República, como por exemplo, o novo mapa judiciário que esvaziou o Tribunal de Paredes.

 

A outra mulher é Raquel Moreira da Silva. Foi vereadora de Granja da Fonseca e de Celso Ferreira. No mandato anterior entregou os pelouros em discordância com Celso Ferreira. A seu favor tem o facto de ser de todos desta lista a que tem mais experiência e o facto de ser, certamente, a potencial candidata com mais popularidade e notoriedade no concelho. Contra, tem o facto de ter sido apontada como candidata do PS nas últimas legislativas e nunca ter vindo a público explicar. Também pesa contra a sua eventual candidatura o facto de ter estado sempre próxima de um grupo de militantes do PSD que têm contestado a actual liderança social-democrata no concelho.

 

O jogo só agora começou. Para o jogar é preciso estar presente. Mas uma coisa é certa: mais importante do que saber quem o joga, é saber quem o acaba.

Sab | 25.07.15

Pior cego é o que não quer ver

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Para quem como eu vem a trabalho uma vez por mês aos Açores, nota que a cada chegada há mais turistas que no mês anterior. O Governo Regional também já percebeu isso, confirmando que há um crescimento de quase 30% desde o princípio do ano. Mas para os governantes dos Açores este desenvolvimento não tem nada que ver com a liberalização do espaço aéreo dos Açores. Nem com os voos da Easyjet e muito menos com os da Rayanair que são cada vez mais e chegam apinhados de turistas, ao contrário dos da Sata que prosseguem com a mesma regularidade e quase sempre com pouca gente. Para o Governo Regional dos Açores o aumento do turismo – espante-se! – deve-se à criação dos “centros de interpretação ambiental”. O pior cego não é o que não vê, é o que não quer ver.

Qui | 23.07.15

As cabras e os tugas

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As cabras. O economista francês Alfred Sauvy contou uma vez uma história com um elevado significado. Dizia Sauvy que as cabras comem a pastagem e os lobos comem as cabras, mas felizmente para as cabras que os lobos não gostam de pastagem porque, se assim fosse, sendo mais fortes, comeriam a pastagem toda e as cabras não poderiam existir. Com base nesta análise resultam duas coisas: as cabras devem a vida a quem as come e o interesse dos lobos é o de que no terreno existam montanhas inacessíveis a eles para as cabras se refugiarem. Se um espaço é plano, os lobos multiplicam-se, comem as cabras todas e com o desaparecimento da última cabra desapareceram todos os lobos, mas se um espaço tem redutos inacessíveis, os lobos vão comendo apenas o “rendimento” sem tocar no “capital”, encontrando assim o crescimento óptimo que os permite ajustar ao crescimento do “rendimento disponível”.

 

Se adaptarmos este pequeno exemplo aos nossos dias, poderemos perceber que o que às vezes nos parece muito mau, também é bom. Utilizando o exemplo de Sauvy, parece-me que vivemos muitos anos em terreno plano a comer o rendimento e o capital. Os sacrifícios que quase todos temos feito ajudam-nos a salvaguardar algum do capital que ainda nos resta e a obriga-nos a comer apenas o rendimento, o que devíamos ter feito desde sempre.

 

Tugas. Porque o tempo é de férias e de descontracção, partilho uma estória que me contou um amigo e que ilustra um bocadinho do nosso comportamento. Na verdade, cada um de nós tem um pouco de taxista. Trata-se da conversa de um taxista com um elemento da Troika, entre o Aeroporto e o hotel.

 

"Hotel Tivoli? Daqui, do aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o camone que vem mandar nisto?

A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe?

E não é só aquele que está preso. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que é? Tacho, pilim, dólares.

Ainda bem que vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile...

O nome da ponte? Vasco da Gama. A gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel.

Mas, como eu tava a dizer, isto precisa é de um gajo com pulso.

Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia respeito...

Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer nenhum.

Se fosse comigo era tudo prá rua. Gente nova é qu'a gente precisa.

O meu filho, por exemplo, não é por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo, passa os dias a ver filmes.

A minha mais velha também precisa de emprego, tirou Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Agosto ela tem as férias marcadas em Punta Cana, com o namorado.

Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que sou eu que lhe pago as prestações do carro.

Bom, cá estamos. Um tirinho, como lhe disse.

O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho."

Qui | 16.07.15

Pagar o que se pode

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Há mais de 20 anos que os vários governos andam a prometer a construção do IC35, que há-de ligar Penafiel a Entre-os-Rios, passando a ser uma alternativa à EN106. São pouco mais de 13 quilómetros. Para se perceber a importância desta estrada, a EN106 tem uma média diária de circulação de 13 mil veículos, sendo que uma grande parte são pesados de mercadorias. Se tivermos em conta que nestes 20 anos se construíram auto-estradas onde passam menos de três mil carros por dia, tornam-se ainda mais incompreensíveis os sucessivos adiamentos da construção do IC35.

 

Esta semana, o Governo avançou com a adjudicação da construção do primeiro troço do IC35. São 2,5 quilómetros que vão ligar Penafiel a Rans. À primeira vista, pode parecer pouco, pode parecer até ridículo lançar a concurso um troço com meia dúzia de metros de alcatrão. Mas a verdade é que é a primeira vez que, em mais de 20 anos, há algum avanço real neste projecto: a construção dos 2,5 quilómetros de estrada está anunciada para começar dentro de dias.

 

Mas o que tornou mais credível a concretização desta obra foi a justificação dada por Sérgio Monteiro, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações: “Só nos conseguimos comprometer com obras que podemos pagar”. Em ano de eleições, quando todos queriam ouvir o Governo a prometer a construção de todo o IC35, um governante que diz que o dinheiro não chega para mais deve ser levado a sério e deve ser respeitado.

 

Até quando?... Maria Estrela Serrano é doutorada em Sociologia da Comunicação, da Cultura e da Educação pelo ISCTE. Esta senhora, que ensina futuros jornalistas, conseguiu escrever um texto lamentável sobre o facto de Laura Ferreira, a mulher do Primeiro-Ministro, ter acompanhado o marido numa actividade pública. Segundo Estrela Serrano, Laura Ferreira não deveria ter comparecido, sem cabelo, a uma cerimónia pública ao lado do marido. Será que o Primeiro-Ministro também deveria ter impedido a mulher de comparecer às sessões de quimioterapia, para que não lhe caísse o cabelo?…

 

Depois de ler o texto desta professora de Jornalismo, descobri que a mulher do Primeiro-Ministro tem uma doença e que a Estrela Serrano é uma pessoa que sofre de sectarismo político. Também para isto deveria haver limites...

Qui | 09.07.15

Direito a nascer

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No final da semana passou despercebida na Comunicação Social a discussão em Plenário da Assembleia da República da Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) "Pelo Direito a Nascer", promovida por mais de 48 mil portugueses, onde me incluo.

 

Passou despercebida na Comunicação Social e por entre os deputados, que ignoraram por completo a iniciativa dos cidadãos. À excepção da deputada Inês Teotónio Pereira, os restantes deputados ignoraram por absoluto este projecto-lei de apoio à maternidade e paternidade. O projecto-lei baixou para a discussão na especialidade sem votação.

 

Para além de ignorar uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos, os deputados demonstraram menosprezo por todas as mulheres que querem ser mães, mas que são empurradas para o aborto pela pressão do patrão, do companheiro, dos pais, ou das circunstâncias.

 

Espera-se que o debate na especialidade, longe dos holofotes, permita um debate profundo e sério sobre as propostas que esta ILC levou ao Parlamento, para que seja possível discutir a fundo o combate à discriminação das grávidas no mundo do trabalho; a discriminação dos médicos objectores de consciência; a possibilidade de mais e melhor acompanhamento da grávida que decide abortar; o Direito a Nascer e a inclusão do nascituro no agregado familiar e todas as outras propostas contidas no projecto lei ignorado no Parlamento.

 

Parece ser consensual na sociedade portuguesa que a protecção da família, da maternidade e da paternidade responsáveis, encontra diversos obstáculos no meio profissional e social, bem como no quadro legislativo desfavorável que urge começar a alterar. Uma preocupação que é transversal aos posicionamentos ideológicos e políticos e que exige uma resposta urgente. Por isso, espera-se que os deputados oiçam a voz de todos aqueles que lhes pedem que votem este projecto-lei, assim como todas as mulheres que, desejosas de serem mães, continuam a sofrer em silêncio sem qualquer auxílio do Estado.

Qui | 02.07.15

A Grécia e nós

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No dia em que escrevo este texto, a Grécia conseguiu mais um feito histórico: é a primeira vez em 71 anos do Fundo Monetário Internacional (FMI) que uma economia desenvolvida falha um pagamento. O Governo de Atenas, ao não ter reembolsado os 1,6 mil milhões de euros que deve ao FMI, faz com que, a partir de hoje, o país fique impedido de recorrer àquela organização até pagar a prestação em atraso e, talvez daqui a poucos dias, os bancos gregos ficarão insolventes.

 

Para além disso, neste mesmo dia termina o programa de assistência financeira ao país. Ou seja, os gregos estão por sua conta e risco para encontrar recursos financeiros para fazer face às suas necessidades.

 

Hoje, o director de um dos mais importantes jornais gregos, o “To Vima”, escreve um editorial muito crítico à actuação do Governo grego: “ O sr. Tsipras não pode brincar com o futuro do país e assistir, impávido, à deterioração da situação a cada dia, falando apenas com quem concorda com ele. O país está à beira da catástrofe, o primeiro-ministro tem que decidir exactamente o que quer e o que quer pedir aos gregos e à Europa”.

 

No fundo, o director do “To Vima” está a pedir a Alexis Tsipras o mesmo que o FMI e a Europa pedem desde Janeiro: que governe o país. O Syriza ganhou as eleições prometendo tudo a todos, iludindo os gregos com um futuro melhor que dependia do dinheiro dos outros.

 

Por cá, a reacção do Partido Socialista à situação grega mudou drasticamente. Certamente que todos se recordarão de que, em Janeiro, perante a vitória do Syriza, António Costa afirmava, em tom eufórico, que “a vitória do Syriza é um sinal de mudança”, esquecendo que o PASOK, o partido socialista grego, tinha conseguido apenas 4,6 por cento dos votos. O mesmo António Costa, agora, não diz uma palavra sobre o assunto, mas continua a distribuir promessas eleitorais que, tal como na Grécia, dependem do dinheiro dos outros.

 

O que aconteceu à Grécia é o que acontece às famílias e às empresas. Só somos independentes dos outros quando não dependemos dos outros para nos financiarmos.

 

Agora que se aproximam as eleições legislativas, é mais do nunca importante manter a memória fresca. O ano de 2011 não foi assim há tanto tempo.