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alinhamentos

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Qui | 30.10.14

Empresas na feira e tomates no estádio

fcrocha

No final da semana passada, o presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Humberto de Brito, chamou os jornalistas para uma conferência de imprensa durante a qual apresentou um projecto de investimento industrial no concelho. Trata-se de uma empresa vietnamita que transmitiu a intenção de investir 200 milhões de euros e criar 500 postos de trabalho imediatos, podendo mesmo chegar aos 5 mil daqui a cinco anos. Tudo isto parece ser uma excelente notícia para o concelho e para a região.

 

O anúncio de um investimento desta magnitude pelo presidente da câmara – que tinha a seu lado a empresária vietnamita responsável – faz-nos presumir que estamos perante um processo de extrema importância, com todos os pormenores acertados e com garantias sérias de que tudo correrá conforme o acordado entre as partes. No entanto, no decorrer da conferência de imprensa alguns pontos não ficaram suficientemente claros, a começar pela localização da empresa.

 

Segundo o autarca, a futura empresa terá sede nas actuais instalações da Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF) onde se realiza a feira Capital do Móvel e que acolhe ainda serviços administrativos e um centro de formação. Apesar de não ter adiantado para onde serão transferidos quer a feira, quer aqueles serviços, garantiu que até ao final de Dezembro a empresa começará a funcionar naquele local.

 

Ora, acontece que as referidas instalações, construídas no início da década de 90 e que custaram aos empresários pacenses mais de 400 mil contos, são propriedade da AEPF. Para sejam cedidas à tal empresa vietnamita, é necessário que haja uma assembleia geral de associados da AEPF que delibere a cedência do espaço. Curiosamente, antes de os empresários sequer se terem reunido, o anúncio de que a decisão será essa já foi feita.

 

Mesmo acreditando que os empresários vão votar favoravelmente a cedência das instalações, há ainda outro pormenor que pode complicar o negócio. No início do ano passado, as mesmas instalações foram alvo de uma requalificação que custou aproximadamente 1,5 milhões de euros, comparticipados em 85 por cento pelo QREN. Ou seja, os 1,275 milhões de euros de fundos do QREN impedem, durante cinco anos, que o fim a que se destinam aqueles pavilhões (feiras e exposições) seja alterado. Para que isso seja possível é necessária uma autorização da CCDR-N – que não é plausível que seja concedida até Dezembro – e a devolução de mais de metade do dinheiro recebido da compartição europeia, uma vez que a percentagem para investimentos privados é de quase metade daquele valor. Tudo isto admitindo que a CCDR-N autoriza esta alteração.

 

Por tudo isto, torna-se difícil de compreender o anúncio de um investimento desta importância sem que estejam garantidas todas as condições para a sua realização.

 

O concelho de Paços de Ferreira deve ser o local do país com mais zonas industriais desocupadas por metro quadrado. Sendo todos esses terrenos propriedade de uma empresa municipal, não se compreende a insistência nas instalações da AEPF, com todas as implicações que daí podem surgir.

 

A continuar este modo de proceder, não é impossível que, na sequência de um projecto apresentado na Câmara Municipal por um empresário agrícola, no domingo seguinte os adeptos do Futebol Clube de Paços de Ferreira corram o risco de chegar ao estádio para assistir a um jogo e verificar que o relvado foi ocupado por uma plantação de tomates.

 

Qui | 23.10.14

Protestos e simulações

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Os cerca de 50 passageiros do autocarro alugado vinham de Braga, onde tinham acabado de cumprir uma missão com êxito, que se preparavam para repetir. Pararam no Porto, em frente a uma fábrica metalúrgica na zona da Boavista com cerca de 200 funcionários (um deles filiado num sindicato da CGTP), com salários em dia, considerada líder no seu segmento, mas, que, tal como muitas outras empresas portuguesas, para se adaptar às condições do mercado, precisa de fazer uma reestruturação, que pode passar por negociar o despedimento de algumas pessoas.

 

Os 50 passageiros desenrolaram as faixas do costume, agitaram as bandeiras do costume e começaram a gritar os chavões insultuosos do costume. A estes 50 juntou-se o tal funcionário sindicalizado da empresa. No lado de dentro, os restantes funcionários olhavam para todo aquele espectáculo sem perceberem o que se estava a passar.

 

No minuto seguinte, apareceram as câmaras das televisões, lentes apontadas, microfones estendidos e os 51 a gritarem cada vez mais alto. Apenas um deles era funcionário da empresa, os outros, embora pudessem ter alguma ideia sobre a actividade daquela empresa, não representavam nenhum funcionário, mas faziam número.

 

Era mais uma brigada do sindicato do Partido Comunista. Os operadores de câmara das televisões recolheram as imagens, desligaram as máquinas e foram-se embora. Os jornalistas ainda não deviam ter os cintos de segurança colocados e já os manifestantes estavam a entrar no autocarro alugado, provavelmente rumo a mais um protesto operário simulado. A missão no Porto estava cumprida.

 

À noite, o noticiário de uma das televisões dizia que “trabalhadores de metalúrgica vêm para a rua manifestar-se”. Nas imagens vêem-se dezenas de bandeiras vermelhas da CGTP e um cartaz com as inscrições do costume, ouvem-se as queixas de um dirigente sindical e do funcionário que representa o sindicato. A jornalista não ouviu um único funcionário da empresa. No entanto, para todos os efeitos, a falsa notícia é a dos funcionários daquela empresa a protestar à porta das instalações.

 

Com jornalismo assim, a quem chega a verdade dos factos?

Qua | 22.10.14

A vida Costa

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António Costa continua a percorrer o país de lés-a-lés. Primeiro foi como candidato às eleições socialistas, agora é como líder socialista. Ontem, esteve no Porto. É certo que o cargo que assumiu no partido o obriga a este labor. No entanto, continua a ser o presidente da Câmara Municipal de Lisboa. É legítimo que alguém eleito para governar um município esteja a ser pago pelo Estado para uma função que não exerce?

Seg | 20.10.14

Crédito fiscal

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Deixa ver se captei bem esta coisa do “crédito fiscal” para 2016: Terei direito a receber alguma coisita se conseguir resistir à carga fiscal de 2014 e 2015. Entretanto, se chegar a 2016 com os impostos todos pagos corro o risco de ser investigado por sinais exteriores de riqueza.

Qua | 15.10.14

Condicionar concelhias

fcrocha

 

 

Apesar de ainda faltarem três anos até às próximas eleições autárquicas, José Luís Carneiro, o líder da distrital portuense do Partido Socialista, lançou as candidaturas às câmaras municipais de Paredes e Penafiel.

 

Se em Paredes esta decisão não causa grande alarido, uma vez que o partido parece estar coeso em torno de Alexandre Almeida, o mesmo já não se pode dizer relativamente a Penafiel, onde André Ferreira continua a afirmar que “qualquer pessoa que obteve um resultado idêntico [àquele que ele obteve] tem uma perspectiva forte de vencer”, mostrando-se, assim, disponível para voltar a ser o candidato à câmara.

 

Esta perspectiva do candidato, que parece realista olhando apenas para o resultado eleitoral obtido, carece, contudo, de melhor interpretação, se se tiver em conta o contexto em que decorreram as eleições.

 

Antes de mais, é preciso relembrar que André Ferreira foi candidato no ano em que Alberto Santos saiu. Para além disso, o candidato da coligação de direita foi Antonino de Sousa, até então líder do CDS-PP, o partido mais pequeno da coligação e que, a poucos dias do início da campanha eleitoral, deu uma cambalhota para se tornar candidato independente pela coligação Penafiel Quer. A tudo isto podemos ainda acrescentar uma facção do PSD, encabeçada pelo deputado Mário Magalhães, que discordava da escolha de Antonino de Sousa e passou todo o tempo a tentar condicionar a campanha eleitoral.

 

Importa não esquecer, igualmente, que as eleições autárquicas decorreram numa altura em que o Governo de direita estava com a pior popularidade de sempre, contribuindo para alguns desastres eleitorais em concelhos que eram considerados bastiões sociais-democratas, como Paços de Ferreira ou Valongo. No entanto, apesar de todo este cenário aparentemente favorável, André Ferreira não conseguiu evitar que a coligação de direita obtivesse em Penafiel o segundo melhor resultado do distrito.

 

Por tudo isto, ao anunciar com três anos de antecedência a candidatura de André Ferreira às próximas eleições autárquicas, José Luís Carneiro está ilegitimamente a condicionar a decisão dos órgãos concelhios, a quem compete indicar os candidatos.

 

Quem estiver minimamente atento à política local já há algum tempo percebeu que, para chegar a cabeça de lista do PS nas próximas eleições autárquicas, André Ferreira vai ter que medir forças com Nuno Araújo e Fernando Malheiro. Parece-me até que terá poucas possibilidades em relação ao segundo.

 

Por isso, anunciar neste momento André Ferreira como candidato é, para além de precipitado e desajustado, condicionar e predeterminar de forma ilegítima a capacidade da concelhia socialista e ofende certamente a dignidade e o prestígio de quem a preside.

 

 

Ter | 14.10.14

Triste espectáculo

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Já não suporto ver a abertura dos telejornais com os ecrãs atrás do pivot inundados de imagens de uma chuva mais intensa em Lisboa.

 

Chega de repórter de galochas e microfone na mão como se estivesse no meio de um dilúvio.

 

Chega de competir pela peça jornalística com mais ranger de dentes, baba, ranho e lagostins resgatados na zona do Lumiar. Sim, lagostins. Uma das televisões passou uma peça sobre um crustáceo que apareceu no meio de um alagamento.

 

Isto não é informação, isto não é jornalismo, isto não é, sobretudo, socialmente responsável.

 

Informar não é sinónimo de impressionar. Programação informativa não é programação de entretenimento. É assim tão difícil perceber isto, caramba!?

Qui | 09.10.14

Erro de palmatória

fcrocha

 

Na última campanha eleitoral para as eleições autárquicas, o Partido Socialista de Paços de Ferreira usou – até à exaustão – o tema da água. A principal bandeira eleitoral socialista, e a que parece ter sido determinante para a vitória de Humberto de Brito, foi a remunicipalização daquela que era considerada a água mais cara do país. Essa promessa eleitoral, no entanto, demonstra ser quase impossível de cumprir, por três motivos: primeiro, porque o contrato público defende muito mais os interesses da empresa concessionária do que os do Município, o que daria lugar, em caso de remunicipalização, ao pagamento de uma indemnização milionária; segundo, porque outras Câmaras Municipais tentaram fazer o mesmo e foram sentenciadas em tribunal ao pagamento das tais indemnizações, que têm o poder de ditar a bancarrota municipal; em terceiro, porque o Município de Paços de Ferreira se encontra numa situação financeira que não lhe permite comportar qualquer despesa suplementar que se apresente.

No entanto, desde que chegou à presidência da Câmara Municipal, Humberto de Brito nunca perdeu de vista o objectivo de conseguir que o serviço de água e saneamento retornem ao controlo do Município. Como não pode criar mais nenhuma empresa municipal, levou à última sessão da Assembleia Municipal uma proposta que previa a alteração do objecto social da empresa Gespaços, para que, caso se concretizasse o negócio, pudesse receber aqueles serviços.

O PSD não tem a maioria dos eleitos para a Assembleia Municipal, mas como tem mais presidentes de junta e estes têm voto naquele órgão autárquico, usou dessa condição para conseguir produzir a maioria e reprovar a proposta do PS. Ao fazê-lo, cometeu, em meu entender, um erro de palmatória.

Os sociais-democratas conhecem melhor do que ninguém todo este processo e as cláusulas do contrato. Por isso, sabiam que este era um processo quase impossível de materializar. Se se tivessem abstido, estariam a dar todas as condições para que o PS cumprisse a sua promessa eleitoral e na próxima campanha eleitoral estariam a cobrar uma promessa não cumprida.

Assim, ao reprovar esta proposta, o PSD resolveu o maior dos problemas de Humberto de Brito: executar aquela que foi a sua maior promessa eleitoral. A partir de agora, e até às próximas eleições, o PS vai poder dizer que a remunicipalização dos serviços de água e saneamento não foi possível porque o PSD, pura e simplesmente, a inviabilizou.

Há muito que se percebeu que o PSD não estava preparado para ser oposição. Prova disso são as intervenções vácuas e sem habilidade de resposta nas assembleias municipais. Agora, com esta postura, percebe-se que o partido ainda não descobriu uma estratégia política de futuro.

 

Ter | 07.10.14

A culpa é do filho...

fcrocha

Isto pode ser lido na edição de hoje do DN: “Tirando o litoral que, no próximo inverno, tudo leva a crer que volte a ser terrível.” Mais à frente o mesmo colunista afirma: “Será que Passos Coelho não percebe que deve sair do poder e do País antes das eleições legislativas de outubro de 2015, e de tudo mudar? Se assim for corre um grande risco. Deve pensar duas vezes e sair a tempo. Antes que tudo mude e possa vir a ser julgado. Quem o avisa seu amigo é...” Ora, o amigo que assim avisa, com toda esta lucidez e inteligência, é Mário Soares. Continuo a dizer que a culpa é do filho dele, pois são os filhos que têm a obrigação de olhar pelos pais na velhice.

Qui | 02.10.14

O poder é um fim em si mesmo

fcrocha

 

No passado domingo ficámos a saber que o próximo candidato socialista a primeiro-ministro será António Costa. No entanto, ficámos sem saber em quem votaram os simpatizantes e os militantes socialistas, ou seja, se o resultado esmagador obtido por António Costa foi conseguido com o voto maioritário dos simpatizantes ou dos militantes, até porque essa informação permitiria perceber até que ponto o partido estava com o secretário-geral demissionário.

 

António Costa venceu com uma larga maioria após uma campanha de quatro meses durante a qual não disse nada sobre como pensa governar o país caso ganhe as legislativas e, mesmo assim, os militantes e simpatizantes passaram-lhe um cheque em branco que ele preencherá como bem entender.

 

António José Seguro era um outsider, pretendia construir um partido que colidia com os velhos vícios dos velhos barões socialistas, coisa que os próprios não poderiam aceitar. Por isso, a máquina socialista não aceitou renovar-se. As eleições socialistas revelaram que o poder é um fim em si mesmo.

 

O resultado das eleições de domingo deve ter deixado preocupados Passos Coelho e Paulo Portas: o novo rival é bem mais temível do que o seu antecessor. António Costa é um fenómeno da imprensa nacional, tem aquilo a que se chama “boa imprensa”. Repare-se no que a imprensa nacional nunca disse: passou quatro meses a percorrer o país em campanha eleitoral, ao mesmo tempo que recebia o vencimento de presidente da Câmara Municipal de Lisboa; participou nos Governos que fizeram falir o país; tem um percurso profissional apenas político; durante a campanha teve um discurso assustador de banalidades a que chamou “agenda para a década”, mas não disse uma palavra sobre o que isso é.

 

A partir de agora, António Costa tem um trabalho de campanha eleitoral que, ao contrário do que afirmou, não será de oposição ao actual Governo. Costa vai tentar convencer os portugueses de que a troika nunca existiu, que o memorando de entendimento nunca foi assinado, que não existem compromissos financeiros incontornáveis e que o desemprego vai baixar logo a seguir a tomar posse, caso vença as legislativas.

 

Na noite eleitoral socialista a sala dos apoiantes de António Costa parecia um Conselho de Ministros socratista, onde só faltou o próprio Sócrates, que, à mesma hora, estava na televisão pública a tecer elogios rasgados ao vencedor. Aterroriza-me a ideia de poder vir aí um novo Sócrates, com outra aparência.