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alinhamentos

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Qui | 28.08.14

Os espoliados

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Há 40 anos, o mundo ruiu para mais de meio milhão de portugueses que residiam no antigo Ultramar Português. Forçados a sair daquela que era, até então, a terra para onde tinham emigrado ou onde tinham nascido, foram enviados para Lisboa com a bagagem que apenas trazia a angústia de terem largado a sua casa e os seus bens para viverem numa terra que muitos nem sequer conheciam. Ficaram conhecidos como “retornados”.

 

Na altura, Mário Soares era o ministro dos Negócios Estrangeiros e o responsável pelo processo de descolonização. Há pouco tempo, o próprio afirmou que “a descolonização foi óptima, foi feita num tempo-recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações”. O certo é que aqueles que perderam tudo não têm a mesma opinião.

 

Ao contrário do que aconteceu com a descolonização inglesa e francesa, que indemnizou os repatriados, os portugueses do Ultramar foram espoliados de todos os seus bens. Muitos consideram que o Estado Português os abandonou à sua sorte.

 

Houve portugueses que foram empreendedores, fundaram povoações, criaram empresas, exploraram fazendas, que tudo quanto ganharam reinvestiram naquela terra que era também sua, portugueses que enquanto estiveram no Ultramar não transferiram um escudo para a metrópole porque acreditavam no futuro daquelas terras. Abruptamente, em 1974, para salvar a vida, tiveram que largar tudo e viajar para Lisboa apenas com os bens que cabiam numa mala de vigem. Muitos deles nem tempo tiveram para ir ao banco e levantar o seu dinheiro. Depois de uma vida de trabalho, muitos deles tiveram que enfrentar a velhice com uma mísera pensão de reforma.

 

Mas estes portugueses não foram traídos apenas pelo Governo da altura. Foram traídos pelos sucessivos Governos de todas as cores políticas que, até aos dias de hoje, nunca os indemnizaram pelos bens perdidos, nem sequer por aqueles que foram entregues à guarda dos consulados e das embaixadas portuguesas.

 

Passados 40 anos, a situação dos espoliados do antigo Ultramar é um problema que continua por resolver.

Ter | 26.08.14

O pudor dos diários do século XXI

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Os antigos diários de papel eram uma coisa privada, uma coisa que só o interessado lia e, por isso, o local para onde se podia derramar todas as reflexões e todos os segredos. Agora a vida pessoal exibe-se na rede, nos novos diários electrónicos. Podem ser mais práticos, mas como podem ser lidos por todos tenho a certeza que impõem uma certa censura na hora de escrever. Se não se pode ser totalmente franco, para quê dar-se ao trabalho de escrever um diário? A não ser que seja para chamar a atenção do mundo. Ei, olhem, a minha vida está cheia de realidades interessantes! Façam o favor de as ler…

Sab | 23.08.14

Morreu António Mendes Moreira

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Convivi mais de perto com o Dr. António Mendes Moreira em 2001. O Dr. Mendes Moreira entendia que escrever à mão era o meio mais adequado para as suas narrativas, por isso era necessário que alguém transcrevesse os seus textos para formato informático. Eu tive a satisfação de desempenhar essa tarefa para o último volume do livro “Eu e os Outros”.

 

António Mendes Moreira, médico desde 1951, residia em Paredes, onde nasceu em 5 de Julho de 1926. Aqui foi director clínico do hospital, director do centro de saúde e professor do ensino secundário. Em 20 de Julho de 2011 a Câmara Municipal de Paredes atribuiu-lhe a medalha de ouro do concelho. Na altura, Celso Ferreira justificou a homenagem "pelas qualidades humanas, dedicação, competência profissional e pela intervenção pública marcada por elevado sentido de cidadania".

 

As suas principais obras literárias foram: O Tojo Também Floresce (romance, 1956), Vida de Médico (contos, 1966), Vilateia (narrativa romanceada, 1975), Sobretudo o Amor (contos, 1985), Eu e os Outros (7 volumes em: 1983, 1984, 1987, 1992, 1995, 1997 e 2001), O Homem de Bronze (narrativa romanceada, 1993), A Jornada (compilação de toda a ficção, 1996), Conversa de Amor (1998), As Minhas Charlas (literatura biográfica, 1999), A Alma Nua de um Médico (narrativas autobiográficas, 2002).

 

O funeral realiza-se amanhã, dia 24 de Agosto, às 11 horas, em Paredes.

Qui | 21.08.14

A reforma das reformas

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Nos últimos anos ocorreram várias alterações na sociedade portuguesa que puseram em risco a sustentabilidade da Segurança Social. O envelhecimento da população, o desequilíbrio entre cidadãos activos com emprego e os reformados, o aumento do desemprego e a saída precoce do mercado de trabalho são alguns dos factores que têm contribuído para a iminente falência do sistema de Segurança Social.

 

Actualmente, as receitas provenientes das contribuições dos trabalhadores e das entidades empregadoras não chegam para pagar metade das despesas da Segurança Social em Portugal. Para que se compreenda melhor estes números, no final de 2013 existiam quase quatro milhões de pessoas dependentes do sistema público de protecção dos que vivem dos rendimentos do trabalho.

 

Por tudo isto, a Segurança Social deixou ser um problema político para ser um grave problema social. Todos os portugueses sabem instintivamente que existe este problema. Quando eu comecei a trabalhar, a reforma era calculada com base nos cinco melhores anos dos últimos 10. Depois passou a ser os melhores 10 dos últimos 15. Hoje é calculada a partir de toda a carreira contributiva. Provavelmente, terei ainda muitos anos de trabalho e contribuição pela frente, mas, além de duvidar de que chegarei a receber uma reforma, estou convicto de que a geração dos meus filhos já não a vai receber.

 

Com mais um chumbo do Tribunal Constitucional, ficamos a perceber que nenhum dos partidos políticos está interessado numa solução séria e concreta: Passos Coelho lembrou-se de convidar o PS para falar deste assunto quase no final da legislatura; António José Seguro diz que vai apresentar a solução dele por altura das eleições; António Costa diz que a solução não está nos cortes, mas na criação de emprego, como se fosse criar empregos por decreto. Percebe-se que ninguém quer sentar à mesa com ninguém porque todos querem fazer propostas eleitorais que não vão cumprir.

 

O problema da Segurança Social é um problema complexo e sem soluções boas. Como não há boas soluções, eles preferem falar deste assunto depois das eleições. Seria mais honesto os partidos entenderem-se agora e apresentarem-se a eleições com uma proposta de reforma idêntica. Por exemplo, ninguém se atreve a estipular um tecto máximo para as pensões de reforma. Não estou a defender que se deve retirar direitos à bruta às pessoas mais velhas, mas não podemos continuar com esta história dos direitos adquiridos, porque eu já perdi uns quantos direitos e os meus filhos não terão direitos nenhuns. Não me parece justo.

 

A Segurança Social é um problema nacional que precisa de soluções sérias. Por isso, parece-me trágico que os partidos recusem o diálogo para encontrar soluções sérias e vivam já num período de pré-campanha eleitoral.

Qua | 20.08.14

O Mário Nogueira dos médicos

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Houve tempos em que o lugar de Bastonário da Ordem dos Médicos foi exercido por figuras exemplares que conheciam as responsabilidades do cargo que ocupavam. Falavam pouco, agiam muito e, acima de tudo, zelavam pelos interesses dos médicos e dos utentes do SNS.

 

Hoje, quase que não há um único dia em que José Manuel Silva não me entre pela casa dentro, sempre com ar colérico, voz exaltada e dedo em riste. Parece o Mário Nogueira dos médicos.

 

No entanto, as preocupações públicas do Bastonário não são as mesmas que transmite ao Ministro da Saúde nas reuniões negociais à porta fechada. A acta da última reunião de negociações entre os sindicatos, ordem e ministério é muito clara. O Bastonário da Ordem dos Médicos mostrou-se desagradado pelo facto do Ministério ter tornado público a existência de fraudes praticadas por alguns médicos (apelidou de “campanha mediática contra os médicos”), mostrou-se preocupado por estarem “a ser formados médicos em excesso” (quando ainda ontem protestava contra a contratação de médicos cubanos) e ainda teve tempo para defender o financiamento dos médicos pela indústria farmacêutica para poderem participar em congressos e seminários internacionais (leia-se: férias pagas pelas farmacêuticas).

 

O que nos vale é que a esmagadora maioria dos médicos já não lhe liga patavina.

Ter | 19.08.14

O problema dos nomes

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Desde há uns meses que ando a ler livros de autores estrageiros e não sei se já repararam [os que lêem livros, que devemos ser meia dúzia… vá lá… uns sete dos que estão online] que raramente nos detemos nos nomes das personagens? Eu pelo menos faço isso. Imaginem que estão a ler “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich”, de Alexander Issaievich Soljenitsin [só consegui escrever o nome do autor correctamente porque copiei do livro], de repente estão a ler e aparece: “Acusado de apoiar os alemães, Ivan… De-ni-so-vi-ch… é levado para um campo de trabalhos forçados. Na prisão encontra… Shu-k-hov e Aly-os-ha…”. É uma trabalheira ler estes nomes. Eu compreendo que se leia cada vez menos, pelo menos literatura estrangeira, que para mim tem o problema dos nomes.  

Sab | 16.08.14

O outro lado lunar

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Lembro-me perfeitamente do primeiro disco de vinil que comprei: “Mingos & Os Samurais”, de Rui Veloso. Tocou, tocou e tocou vezes sem conta. Foi comprado no mesmo dia em que comprei o meu primeiro aparelho de música, adquirido com o primeiro salário do meu primeiro emprego. Deve ter sido a meio do ano de 1991. Mais tarde, comprei o “Lado Lunar” e o “Avenidas”, este último já em CD. Se há músico português de quem gosto é do Rui Veloso.

 

Na semana passada, parei para ler uma notícia do Público que dizia que “ao fim de 34 anos de carreira, o músico português Rui Veloso disse numa entrevista ao Diário de Notícias (DN), em que se mostrou desiludido com o estado do país e em particular com o rumo que a indústria da música tem seguido, que vai parar. Não vai abandonar a música mas vai fazer uma pausa”.

 

Fiquei duplamente desiludido: Primeiro, porque é sempre um desencanto quando um dos nossos músicos favorito diz que vai interromper a sua carreira; Segundo, porque Rui Veloso resolveu imitar Fernando Tordo, o que me decepciona ainda mais.

 

Ao justificar a sua decisão com “o estado do país” está omitir quanto o Estado (todos nós) lhe pagou nos últimos anos e a admitir que a sua carreira, nos últimos anos, viveu à custa dos contribuintes nacionais. Ora, só em 2009, o cantor recebeu quase 300 mil euros das câmaras municipais, que podem ser pesquisados na Base de Contratos Públicos. Através de uma simples busca no ano de 2010 aparecem contratos como o que realizou com a Câmara Municipal de Elvas, que lhe pagou €28.600, ou o do Município de Vila Nova de Famalicão em que recebeu por um concerto €31.000.

 

É certo que estas receitas têm vindo a diminuir, tal e qual como a receita da maioria das empresas nacionais, mas é fruto da crise. Até compreendo que o Rui Veloso se sinta aborrecido por receber pouco pelo trabalho que faz e que prefira ficar quietinho do que andar a trabalhar para aquecer. O que não compreendo é que esteja “desiludido com o estado do país”. Tenha lá paciência, até agora tratámo-lo muito bem.

 

*A foto é do Diário de Notícias

Qui | 14.08.14

O sexo das palavras

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O que têm de semelhante palavras como “ouvinte”, “agente”, “influente” ou “dirigente”? O ponto em comum nestas palavras são as terminações em -nte, que é de origem latina e sucede no particípio presente dos verbos portugueses, italianos e espanhóis. Por isso, palavras como, por exemplo, “presidente” são iguais nas três línguas que nasceram do mesmo ventre, ou seja, do latim. Estava a tentar explicar isto aos meus filhos, por causa do polémico uso do termo “presidenta”, quando encontrei este artigo delicioso do Gonçalo Portocarrero de Almada:

 

“Anda por aí uma flamante moda de chamar ‘presidentas’ às senhoras que chefiam alguma instituição, seja ela um Estado, como a autodenominada ‘presidenta’ do Brasil; um parlamento, como a Assembleia da República; ou uma fundação, como a que administra o legado do Nobel português José Saramago.

 

Não decorrendo esta extravagância do nefasto desacordo ortográfico, talvez proceda da ideologia do género, que muito gosta de baralhar, na vida e na linguagem, o masculino e o feminino.

 

Como é sabido, mas não de todos, quando se denomina um sujeito que exerce a acção expressada por um verbo, adiciona-se à raiz verbal os sufixos ‘ente’, como em docente; ‘ante’, como em navegante; ou ‘inte’, como em contribuinte. É esta a forma correcta, qualquer que seja o sexo ou género do indivíduo de quem se predica. Uma mulher-polícia é uma agente da autoridade e não uma 'agenta'; quem fabrica é uma fabricante e não uma ‘fabricanta’; uma mendiga é uma pedinte e não ‘pedinta’. Portanto, pela mesma razão, quem ocupa a presidência, seja mulher ou homem, é presidente e não ‘presidenta’. Outro tanto se diga dos substantivos invariáveis quanto ao género como, por exemplo, atleta, autista, doente, belga, motorista, etc.

 

É curioso que as promotoras destes femininos não defendam, que se saiba, uma forma masculina para os mesmos étimos. Se a forma 'presidente' não é, a bem dizer, feminina nem masculina e se se pode dizer 'presidenta', porque não também 'presidento'?! Portanto, quem diz 'presidenta' também deveria referir-se ao 'presidento' da República, aos ex-'presidentos' do parlamento e ao 'presidento' da Fundação Gulbenkian ...

 

Desculpem o atrevimento de quem não é 'especialisto' na matéria, nem 'jornalisto', mas um mero 'cronisto', que espera chegar, um dia, a 'pensionisto'… E valha-nos a Sophia, que não era 'pedanta'!”

Ter | 12.08.14

O prémio para o maior torrador

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Aos 10 mil milhões do BCE somam-se 3,5 mil milhões do Banco de Portugal. A isto tudo acrescenta-se 4,9 mil milhões do resgate. Se a toda esta pipa de massa adicionar os 5 mil milhões de Angola, mais os 1000 milhões da venda da VIVO e ainda os 900 milhões da PT, descobrimos que Ricardo Salgado alcançou um feito inédito: o europeu que mais dinheiro derreteu em tão pouco tempo. Ora, isto dá qualquer coisa como… é fazer as contas.

Seg | 11.08.14

São como hienas

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Observando os processos de sucessão e corrida às lideranças partidárias, dou comigo a pensar que os políticos são como as hienas. Andam em grupo, caçam em matilha, partilham a presa, mas quando uma tomba, as outras comem-lhe os ossos e sugam-lhe a medula.

Qui | 07.08.14

Ser cristão no Iraque

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Há umas semanas, um muçulmano da cidade iraquiana de Mosul, chamado Ali, alertou o mundo, através da sua conta no Twitter, para o que estava a acontecer aos cristãos da sua terra. Os milicianos do Estado Islâmico ameaçam e matam os cristãos nas áreas que ocupam. Em Mosul, começaram por marcar as casas com uma letra equivalente ao N, que quer dizer Nazareno, a forma como são conhecidos os cristãos do Iraque. Ali, que é muçulmano, grafitou na porta da casa dele a mesma letra N, acrescentando: “Todos somos cristãos”. Depois disso, começou uma campanha no Twitter, convidando todos os iraquianos a fazer o mesmo que ele. São muitos os que seguiram o conselho de Ali.

 

A perseguição aos cristãos do Iraque começou no mês passado, assim que os rebeldes do Estado Islâmico – uma organização mais extremista do que a Al-Qaeda, de onde saiu por essa razão – ocuparam uma grande parte do Norte do Iraque. Nessa altura, intimaram os cristãos a uma de três coisas: converterem-se ao islamismo, pagarem um exorbitante imposto religioso ou encararem a morte.

 

Hoje, o mundo testemunha uma verdadeira atrocidade no Iraque: há uma perseguição em massa e o genocídio da população cristã. No entanto, a comunidade internacional tem tido uma actuação quase passiva de ajuda a estas populações. Só no último mês, quase duas mil pessoas foram levadas de casa, colocadas de joelhos em filas e assassinadas com um tiro na cabeça.

 

Os cristãos que optaram por sair de Mosul não têm para onde ir e tornaram-se refugiados, os que decidiram ficar e renunciaram ao islão foram assassinados. Dos mais de 60 mil cristãos que existiam em 2003, antes da invasão norte-americana, não resta nem um.

 

Não se compreende como é que a comunidade internacional, de forma negligente, não reage a esta perseguição religiosa em forma de genocídio que se está a estender a outras cidades iraquianas.

 

Nesta altura de férias, em que todos temos um pouco mais de tempo livre, aconselho-o a escrever um email à ONU e à Liga Árabe a pedir que intervenham na defesa daquelas pessoas. A sobrevivência delas pode depender disso.

 

 

 

 

 

Ter | 05.08.14

Escola Pública Boa e a Escola Pública Má

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Os resultados dos exames aos professores revelaram que 1.473 professores reprovaram e, dos 10.220 que fizeram exame, 6.438 deram erros ortográficos durante a prova.

 

Para se desempenhar certas tarefas é preciso conhecimento. Para se ser professor é preciso estar habilitado nas áreas do saber. Os resultados deste exame mostram que os professores não são todos iguais nem estão preparados da mesma forma.

 

Eu compreendo que para Mário Nogueira, o líder sindical dos professores que não dá aulas há 25 anos, a greve seja uma festa. Mas, por mais cartazes criativos que distribua e veementes insultos que profira, os professores bons merecem ser tratados de forma diferente dos professores maus. Não são os anos de serviço que fazem um professor bom ou o mau. Também aqui dava jeito criar a “Escola Pública Boa” e a “Escola Pública Má”. Na primeira ficavam os alunos, os professores bons e o parque escolar; Na segunda, os professores maus, o desemprego e o Mário Nogueira.

Sex | 01.08.14

Descansar bem

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Com este calor, apetece-me falar de férias. Como não há férias sem malas, comecemos pelas malas. Português que é português faz duas semanas de férias, mas leva roupa para um mês. Uma mala por pessoa. E se lá faz frio? E se chove? Duas malas por pessoa. Às tantas, vamos querer comprar algumas coisas lá. E como é que as trazemos? Três malas por pessoa. E o que vamos fazer nos tempos livres? Toca a enfiar na mala mais cinco livros do que os que conseguimos ler num ano. Quando chegamos ao aeroporto, já levamos excesso de bagagem. Ora, como temos que estar no aeroporto quase meio dia antes da hora do voo, vamos passear até ao free shop, que tem tudo mais barato. Na hora de embarcar, já levamos quatro malas e dois sacos plásticos em cada mão.

 

O português passa o ano todo a sonhar com elas, a poupar para elas. Gasta um balúrdio para ir para um destino exótico e conhecer novas culturas. Só que quando lá chega descobre que existem mais 500 tipos que também falam português e têm uma pulseira igualzinha à dele. Confinado ao espaço permitido pela cor da pulseira, conhece imenso da cultura exótica, principalmente os lugares onde estão todos os portugueses como ele.

 

O bom turista português não desperdiça nada: traz todos os frascos do gel de banho, a touca e os sabonetes disponibilizados pelo hotel. E, claro, vai a todas as actividades a que tem direito. Vai à hidroginástica, faz caminhadas em grupo e aproveita o ginásio do hotel para fazer uma hora de passadeira, fechado numa sala e virado para uma parede. Quando chega ao avião, senta-se, aperta o cinto e, de tão cansado que vem das férias, dorme a viagem toda até Portugal.

 

É certo que isto é uma visão exagerada das férias, mas a verdade é que muitas vezes esquecemo-nos de descansar e investir na família. Aconselho-o a aproveitar as férias para descobrir as maravilhas no seio da sua família, ensinando os filhos a divertirem-se, ao mesmo tempo que lhes demonstra que não é tão mandão como parece. Faça excursões; visite cidades; ria-se com eles; seja esplêndido – é o que eles esperam dos pais e do que precisam. Invista neles e verá que, no final, não só terá descansado mais do que habitualmente como não terá perdido tempo nenhum. Será o melhor investimento que poderá fazer em toda a sua vida. Não se deixe levar na onda dos que, caindo na mesma rotina de sempre, acabam por se queixar da mesma insatisfação, ano após ano.